Nos últimos anos, São Paulo tem se consolidado como uma capital que valoriza a sua culinária — e os resultados dessa aposta são evidentes: hoje, figura entre as cidades gastronômicas mais vibrantes da América Latina, e provavelmente do mundo. Poucas outras metrópoles no planeta se comparam a São Paulo na quantidade e diversidade de restaurantes. São mais de 30 mil estabelecimentos, que representam 81 tipos de cozinha — sendo 16 brasileiros, de diferentes estados, e 65 de países ao redor do globo.
Mas, muito além da quantidade, o que diferencia a cidade é a qualidade: um altíssimo nível de serviço, apuro técnico e a preocupação com a matéria-prima estão presentes em muitos restaurantes. E, nos últimos anos, as mesas paulistanas só evoluíram, ganhando cada vez mais prestígio entre locais e visitantes.
Não por acaso, a cidade concentra 17 restaurantes com Estrela MICHELIN, sendo a única capital da América Latina com três estabelecimentos com duas Estrelas (não há, ainda, casas com três Estrelas MICHELIN no território latino-americano). Abaixo, descubra mais sobre esses restaurantes e comece já a montar o seu roteiro por esta metrópole que merece ser explorada à mesa

Como saber quais são os restaurantes com Estrela?
Abaixo, você pode conferir a lista completa dos restaurantes com Estrela MICHELIN em São Paulo, organizados por categoria e em ordem alfabética. Basta clicar no nome de cada um para acessar sua página no Guia MICHELIN e obter mais informações.Se quiser conhecer todos os estabelecimentos com Estrela MICHELIN no Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro), o link está aqui.
Os destaques no cenário das Estrelas MICHELIN de São Paulo

Uma tradição japonesa, com certeza
São Paulo é uma cidade de superlativos. É ali, por exemplo, que se concentra a maior colônia de japoneses fora do Japão. Essa imigração, iniciada no fim dos anos 1900, ajudou a definir a presença da cultura nipônica na metrópole em muitos níveis — e marcou, de forma definitiva, sua gastronomia. Não por acaso, 10 dos restaurantes com uma Estrela MICHELIN em São Paulo são voltados à cozinha japonesa — ainda que com estilos bem diferentes.
Em todas essas casas — clássicas ou ousadas —, o que se destaca é a busca pela excelência. Entre a solenidade dos restaurantes tradicionais e o arrojo dos contemporâneos, a cena japonesa paulistana revela maturidade, diversidade e uma rara capacidade de honrar o passado enquanto projeta o futuro.

Há, por exemplo, uma geração de restaurantes que se dedica a oferecer vivências imersivas, refinadas e profundamente conectadas à herança nipônica. Casas como o já lendário Jun Sakamoto, o artesanal KANOE, o despretensioso Oizumi Sushi, o clássico Kinoshita e o balcão intimista do Ryo Gastronomia compartilham um mesmo espírito: a reverência à cultura japonesa e à sua cozinha milenar. Em comum, apostam na liturgia de uma das tradições culinárias mais reconhecidas do mundo, com cortes milimétricos, peixes maturados com precisão, ingredientes de origem e um serviço que respeita o tempo, o gesto e o detalhe. Da impecável sequencia de sushis do Ryo à cozinha Kappo do Kinoshita, em cada uma dessas experiências, o balcão funciona como um palco silencioso — onde o comensal testemunha a técnica, o saber e a delicadeza dos chefs numa celebração quase cerimonial da simplicidade elevada ao sublime.
Mais contemporâneos na forma, mas igualmente rigorosos na essência, restaurantes como o sofisticado Kazuo, o criativo Murakami, o discreto Kan Suke, o inventivo Kuro e o intimista Huto expandem os horizontes da culinária japonesa na cidade. Incorporam produtos locais, às vezes referências de outras cozinhas asiáticas e — quase sempre — técnicas de vanguarda. No Kazuo, a proposta é pan-oriental, com passagens por Índia, Tailândia e China; no Kuro, o fogo e o carvão japonês Binchotan dão o tom da experiência; o Kan Suke aposta em criações como sashimi quente de atum com tahine, enquanto o Huto oferece uma experiência com sequência de sushis impecáveis e pratos quentes criativos. No Murakami, o equilíbrio entre afeto e precisão técnica transforma cada jantar em uma narrativa sensorial pelas mãos do chef Tsuyoshi Murakami. São casas em que a cozinha dialoga com o mundo, mas sem abandonar seu coração ancestral.

São Paulo com sotaque italiano
Outra imigração que deixou marcas profundas na cultura paulistana foi a italiana, influenciando o sotaque, os hábitos e, claro, a mesa da cidade. Em São Paulo, por exemplo, consome-se mais pizza do que em Nápoles, onde a receita se popularizou. Mas não é só isso: há uma presença massiva de pasta e de outros sabores trazidos por esses imigrantes — curiosidade: alguns dos primeiros restaurantes da metrópole foram abertos por eles.
Com o tempo, a cozinha italiana na capital paulista se refinou, ganhou o apelo criativo dos chefs e evoluiu com um misto de ingredientes e de referências que atribuíram um novo significado à ideia de cucina. No sofisticado ambiente do Regent Park, o Picchi, sob o comando do chef Pier Paolo Picchi, celebra suas memórias afetivas e a herança transalpina em três distintos menus — Tutto Pasta, Tradizione e Picchi —, que dialogam com ingredientes brasileiros sem perder o DNA italiano. Discreto e acolhedor, o restaurante se transforma, ao cair da noite, em um cenário romântico onde pappardelle, tortelli e gnocchi brilham ao lado de uma carta de vinhos cuidadosamente escolhida.
Com entrada camuflada e apenas quatro lugares no balcão, o Fame Osteria conta uma narrativa singular: nasceu como um bar clandestino e, com o tempo, virou um ponto de peregrinação gastronômica. O chef Marco Renzetti conduz um menu único e refinado, centrado em massas caseiras – como cappeletti e tonnarelli –, risotos e grelhados, que exaltam técnica e simplicidade. Em meio a paredes de linhas minimalistas e cozinha aberta, a experiência é visceral: vê-se o fogo, o corte, a panela; sente-se o aroma da massa fresca… O menu é único e muda conforme o mercado e o dia da cozinha, mas mantém sempre a alma italiana.
Já o Evvai propõe uma experiência que ultrapassa a definição de restaurante italiano. Sob o comando do chef Luiz Filipe Souza, a casa se apresenta como um cruzamento poético entre Brasil e Itália — uma homenagem aos oriundi, ou descendentes de imigrantes, e à possibilidade de criar algo novo a partir de duas raízes distintas. Com duas Estrelas MICHELIN, o estabelecimento oferece apenas um menu degustação: o Oriundi. Com este nome tão apropriado, a proposta valoriza ingredientes brasileiros como o mel de abelha Melipona, o lardo da Serra da Bocaina ou os vegetais de pequenos produtores. Os pratos chegam acompanhados de ilustrações feitas à mão pelo próprio chef, explicando suas inspirações e histórias — o que torna a experiência ainda mais pessoal e sensível. O resultado é uma cozinha inventiva e profundamente conectada à identidade de seus ingredientes.

Nova cozinha brasileira
Foi com o D.O.M. que a cozinha brasileira passou a ser levada a sério nos circuitos internacionais de alta gastronomia. O restaurante comandado por Alex Atala — o mais celebrado chef do país — consolidou-se como o grande laboratório de sabores nativos, ingredientes amazônicos e técnicas ancestrais revisitadas com rigor e inventividade. Detentor de duas Estrelas MICHELIN, o D.O.M. continua sendo uma viagem sensorial pelo território brasileiro, com pratos que incorporam desde o tucupi e o jambu até o feijão andu com mocotó e beiju — sempre com atenção aos modos de vida das comunidades regionais e aos saberes populares. Em seu salão elegante decorado com peças indígenas, Atala, amparado pelo talento do chef Geovane Carneiro, apresenta uma única sequência degustação (também disponível em versão vegetariana), celebrando os 25 anos da casa com pratos centrados na cozinha sertaneja, que contam histórias, provocam o paladar e reafirmam a força da biodiversidade brasileira.
Com uma abordagem igualmente autoral, mas com espírito mais leve, o Maní segue reinventando a linguagem da culinária brasileira contemporânea. Instalado em uma charmosa casa no Jardim Paulistano, o restaurante comandado por Helena Rizzo, agora em colaboração com o chef belga Willem Vandeven, trabalha quase exclusivamente com ingredientes orgânicos e de origem local. A decoração clara e minimalista, quase mediterrânea, reforça a proposta de uma cozinha limpa, elegante e sensível. Para quem busca uma experiência completa, o menu degustação (disponível em diferentes formatos) é a melhor maneira de mergulhar na visão gastronômica dos chefs.
Mais recente em comparação aos demais, o novo Tuju consolida a visão de Ivan Ralston como um dos cozinheiros mais inquietos do cenário gastronômico brasileiro. Após fechar sua primeira casa e repensar o projeto, o chef retornou com uma proposta ainda mais focada na pesquisa de ingredientes, na sazonalidade e na gastronomia como expressão cultural profunda. Instalado em um edifício de três andares nos arredores do Museu da Casa Brasileira, o restaurante oferece uma experiência imersiva: começa no térreo, com petiscos e vinhos; passa pela cozinha aberta no segundo piso; e termina no bar do rooftop, com vista para o bairro.
O menu degustação é guiado pelas estações do ano — que oscilam entre períodos mais chuvosos e mais secos — e valoriza produtos locais, especialmente paulistas, tratados com técnicas contemporâneas. O serviço, também de excelência, foi reconhecido com o Prêmio Serviço pelo Guia MICHELIN neste ano. A casa ainda ostenta uma Estrela Verde, concedida pelo seu compromisso com o meio ambiente — expresso em práticas como reciclagem, reuso da água da chuva, compostagem, entre outras medidas. O Tuju não apenas moderniza a culinária brasileira: ele a projeta para o futuro.
Ainda que não seja, em essência, um restaurante de cozinha brasileira, o Tangará Jean-Georges usa produtos nacionais, funde-os com a técnica francesa do chef global Jean-Georges Vongerichten — que supervisiona o projeto — e adiciona toques asiáticos sutis, mas sem nunca perder sua identidade. A dupla de chefs brasileiros Filipe Rizzato e Neusi Machado comandam os menus à la carte e de degustação, que podem ser apreciados no salão principal, com vista para os jardins, ou na elegante Chef’s Table, instalada numa sala privada junto à cozinha. Dentro do luxuoso Palácio Tangará, um oásis localizado no coração verde do Parque Burle Marx, o restaurante oferece uma das experiências gastronômicas mais exclusivas da cidade. A carta de vinhos reúne mais de 280 rótulos, e a coquetelaria tem protagonismo próprio, com drinques autorais servidos num bar de atmosfera cosmopolita. Detentor de uma Estrela MICHELIN, a casa se destaca também pela excelência do serviço e pela sofisticação do ambiente

Todos os restaurantes com Estrela MICHELIN de São Paulo
17 restaurantes

Duas Estrelas MICHELIN
D.O.M.
Evvai
Tuju
Uma Estrela MICHELIN
14 restaurantes
Fame Osteria
Huto
Jun Sakamoto
Kan Suke
KANOE
Kazuo
Kinoshita
Kuro
Maní
Murakami
Oizumi Sushi
Picchi
Ryo Gastronomia
Tangará Jean-Georges
Foto de capa: Plato de Kazuo, restaurante com propostas pan-asiáticas que exploram sabores do Japão, China, Tailândia, Coreia, Malásia e Índia © kato/Kazuo
