Para ela, o período coincide com uma tentativa de entender o que somos, o que queremos daqui para frente. “Estou, a cada dia que passa, mais conectada com esse movimento. O que importa é o aqui, o agora. Tenho pensado muito em como meus atos diários se refletem na minha culinária.”
Viviane, que faz comida todos os dias em casa, afirma que tem cozinhado muito mais legumes e verduras no último ano. A horta caseira foi regenerada. Adotou uma dieta muito menos carnívora e, no café da manhã, tem evitado glúten. “Tenho usado mais a tapioca, por exemplo. Estou muito feliz com essas mudanças. Nunca pedi delivery, acredita? Amo o ato de alimentar minha família e tem sido um elixir, nesse momento que estamos passando.”
Curiosamente, ela repara que tem feito dois tipos de cocção: ou recorre à rapidez de uma panela bem quente, como a wok, ou deixa legumes cozinharem bem lentamente, com pouquíssimo tempero e intervenções. Também tosta folhas verdes: “trouxe isso da China e tenho aperfeiçoado isso em casa, o que acaba depois sendo levado para o restaurante”. Ela conta que aprimorou uma receita de cenoura caramelizada de cocção bem lenta, “com um fiozinho de óleo e manteiga, para soltar toda a potência dela.”
Como passou meses a fio com atividade física muito limitada - “às vezes só pegava para dar uma volta no quarteirão” -, Ana entrou, sem se dar conta, numa dieta mais peixeira, porque tem amizade com um excelente fornecedor. “Plínio, um pescador e peixeiro muito bom, trazia em casa muito peixe fresco, que eu preparava assado, principalmente. Também cozinhei muito frango orgânico, mas teve dias que era só ovo mesmo.”
“Depois que a gente viu que não eram só 15 dias de isolamento, comecei a ficar meio inquieto em casa. Por um tempo, fiquei muito apegado à culinária asiática, porque amo as robatas. Fiz espetinho com vários ingredientes. Gostei dos que fiz com camarão e um outro, mais ‘Oriente ‘Médio’, com frango marinado com iogurte e páprica, levado à grelha.”
O que acabou incorporando de vez na rotina foram as incursões e testes culinários semanais, no seu dia de folga. “Agora ando mais nostálgico. Como minha família é austríaca, ando com saudade do goulash da minha mãe e já fiz algumas vezes. Porco na lata, que também tem tradição forte lá, também andei fazendo”.
E conclui: “nessa pandemia, deu tempo de passar por algumas fases.”