Perfis 1 minuto 22 Maio 2021

Arte fora da cozinha

Quando podem, estes chefs correm para fazer um som ou pintar

Lúcio Vieira não se lembra da vida “pré-música”. O chef do restaurante Lilia, Bib Gourmand do Rio, cresceu em um ambiente musical -- seu pai acabou criando naturalmente, entre os filhos, o gosto pelo rock’n’roll. Não deu outra: aos 14, influenciado pela irmã, que era fissurada nas viradas rítmicas das baquetas e do chimbal, Vieira decidiu aprender a tocar bateria. E ganhou um instrumento do pai.

Morando em uma casa em Itaipu, bairro de Niterói, ele afirma que não chegava a incomodar os vizinhos com o som, porque as casas do bairro eram bem espaçadas.

A primeira banda, formada entre amigos, era dedicada ao hardcore: tocavam NOFX, Dead Kennedys, Bad Religion, algo de surf music. Anos depois, enquanto Vieira já cursava gastronomia, os colegas músicos acabaram se reencontrando e passaram a tocar samba-rock e funk, inspirados por Jorge Ben Jor. Na fase “Puro Samba Adulterado” -- nome do conjunto, à época --, Lúcio e seus amigos chegaram a fazer “uns 20 shows” pela sua cidade natal.

“É pena que, com a pandemia, a gente não tenha mais se encontrado para ensaiar. Antes, pelo menos uma vez por semana, estávamos em algum estúdio tocando”, diz o chef. Hoje, morando em um apartamento com a esposa e o filho, a bateria segue guardadinha na casa da mãe, esperando o momento certo de ser acionada.

Não é incomum ouvir histórias como a de Lúcio entre chefs. Antes de decidir mochilar pela Europa e voltar cozinheiro, Alex Atala, do duas estrelas MICHELIN D.O.M. e do Bib Gourmand Bio, teve banda de punk rock. Vez ou outra, contudo, a paixão pelas artes extrapola o simples divertimento e vem dar as caras no trabalho.

Benny Novak, em foto postada no Instagram

É o caso de Benny Novak, do Prato MICHELIN paulistano Ici Bistrô. O chef, que toca violão e guitarra, vira e mexe posta nas redes sociais suas lembranças dos tempos em que corria atrás de shows, nos EUA, e faz questão de selecionar a trilha sonora do restaurante -- já foi até elogiado por isso.

Aquarela de Silvia Percussi

Curiosa foi a trajetória de Silvia Percussi, do restaurante Vinheria Percussi, O Prato MICHELIN de São Paulo. “Brinco que minha profissão virou hobby e meu hobby virou profissão”, diz ela. Formada em desenho industrial, chegou a cursar história da arte e desenho gráfico na Itália, e fez diversos cursos de pintura, ao longo dos anos.

Silvia tocava o restaurante familiar e foi deixando a formação artística meio de lado, pelo menos como atividade principal. “Em 2020, voltei fazendo faiança, que eu pinto há 22 anos, e hoje em dia é superlegal, porque pinto peças e vendo -- saem até alguns utilitários para cozinha, sempre ligados ao meu tema”, explica ela. Também em 2020, ela lançou, junto com a jornalista Letícia Rocha, o Box Sensazioni, uma caixa com ingredientes para cozinhar tonnarelli al cacio & pepe, com uma cerâmica pintada exclusiva.

Desenho de Helena Rizzo

A abordagem de Helena Rizzo na cozinha é assumidamente artística. No comando do uma estrela MICHELIN Maní, em São Paulo, a chef é filha da artista plástica Ivone Bins, e “desenha” pratos como quem brinca com pincéis e lápis. Quem visita o restaurante ou pede algo para entrega em domicílio já deve ter visto o resultado dessa aproximação. Boa parte da comunicação visual do Maní -- das ilustrações nas embalagens do delivery aos rótulos dos vinhos que lançou há poucos meses -- são de sua autoria.

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