Perfis 1 minuto 08 Março 2021

Kátia Barbosa, a rainha da comida popular brasileira

À frente do Aconchego Carioca, Kátia Barbosa serve delícias da 'comida popular brasileira'.

Antes de o Rio de Janeiro viver uma apoteose gastronômica, a partir dos anos 2000, já dava para ser feliz frequentando os botequins da cidade. A forte tradição da botecagem tem origem portuguesa, mas sempre foi marcadamente masculina. Até surgir Kátia Barbosa. Seu Aconchego Carioca, inaugurado em 2002 e destacado com o Prato MICHELIN, reina entre os melhores espaços para se provar comida de botequim.

Kátia Barbosa capitaneia a operação, que atrai locais e turistas à Praça da Bandeira, nas bordas do bairro da Tijuca. Seu bolinho de feijoada já é patrimônio da cidade -- e lembrança de um preparo de sua mãe, quando ela era criança.

Kátia se embrenhou em um dos mais restritos redutos masculinos, e não se fez de rogada. “Meu pai esperava que eu virasse empregada doméstica”, conta ela, por telefone. A mãe era lavadeira; o pai, vendedor de cocada e quebra-queixo. A família morava em Ramos, bairro da zona norte do Rio. A guinada em direção à gastronomia veio aos 40 anos, por pura necessidade. O bar era dos irmãos, e ela, desempregada, foi trabalhar lá como garçonete e ajudante. Aos poucos, descobriu-se cozinheira, e passou a ler tudo que podia sobre culinária. Virou a estrela do bar.

Kátia fez a reputação do Aconchego, na cozinha e no salão, com muito trabalho e dedicação. Em pouco tempo, o restaurante levou todas as classes a provar comida nordestina, ou, como ela prefere nomear, “comida popular brasileira”. “O público que a gente passou a atrair só conhecia esse tipo de comida quando viajava, só se permitia comer comida nordestina quando visitava o Nordeste. A grande sacada foi botar, no mesmo salão, o morador da avenida Vieira Souto [em Ipanema] junto do motorista de táxi”, afirma ela.

Kátia não perde o vigor em testar novos pratos, e hoje, além de trabalhar como apresentadora de programa de TV, tem trabalhado no desenvolvimento de uma linha de congelados a vácuo para o consumidor finalizar em casa. Fazer comida boa com regularidade não é fácil, mesmo que seja trivial. “Simplicidade não é entregar comida de qualquer jeito. A gente quer que o cliente tenha, em casa, a mesma experiência de sabor que teria no Aconchego, e isso exige bastante teste para apurar a receita”, afirma Barbosa.

O estereótipo de mulher forte que carrega também é uma forma de preconceito, ela diz. Mesmo em um meio masculino e machista, Katita (seu apelido) não se ressente. Constrói sua história de forma sólida e ascendente. Autodidata na profissão, participou em 2014 do MAD Food Camp, na Dinamarca, simpósio que reúne a vanguarda da gastronomia mundial. Lá, foi aplaudida de pé pelos melhores, entre eles Massimo Bottura, o três-estrelas MICHELIN à frente da Osteria Francescana, em Módena (Itália). “Melhor que estar na TV é fazer o mundo entender que o Brasil não é só futebol e samba.”

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