Vários lugares históricos e reservas naturais pelo mundo recebem a designação de Patrimônio Mundial da UNESCO. Mas como reconhecer tradições culturais? Cheque a lista de Patrimônios Imateriais da UNESCO: abarca tudo, desde o tango na Argentina e no Uruguai até o teatro de fantoches Wayang da Indonésia. A lista é atualizada anualmente e contempla também uma série de alimentos, bebidas e saberes culinários. Aqui estão nove deles para você conhecer e, se puder, experimentar, quando tiver oportunidade.
Diferentes tipos de cerveja belga. Foto © Sebalos / iStock
A produção de cerveja na Bélgica remonta ao século 9, quando era feita por monges em abadias. No século 12, Hildegard de Bingen - escritora, compositora, intelectual e renascentista antes da própria Renascença - foi a primeira pessoa a escrever sobre o uso de lúpulo na cerveja. Os monges continuaram a fabricar cerveja em dois estilos diferentes: trapista -- cervejas fabricadas apenas por monges trapistas; e abbey -- cervejas que antes eram fabricadas por monges, mas que passaram a ser feitas em cervejarias. A Bélgica produz mais de 1.000 tipos de cerveja, com tonalidades que vão do louro claro ao marrom escuro, do sabor adocicado ao achocolatado, de corpo leve ou bem encorpadas e com final longo.
Cuzcuz
O cuscuz – pequenas bolinhas de sêmola de trigo duro triturado – é um alimento básico na culinária do Magrebe, região Noroeste da África. O modo com que é produzido e consumido na Argélia, Mauritânia, Marrocos e Tunísia entrou para a lista de patrimônio imaterial da UNESCO em 2020. O cuscuz pode ser salgado ou doce, com amêndoas, canela, açúcar, água de rosas ou de flor de laranjeira e uvas passas. Geralmente é servido com vegetais cozidos em um caldo ou guisado que pode ser leve ou picante, às vezes com carne (geralmente frango, cordeiro ou carneiro). Na Tunísia, o cuscuz obtém seu calor e a cor laranja-queimada por conta do molho harissa, à base de pimentas e especiarias, e costuma ser servido com frutos do mar.
Fabricação de kimchi no inverno. Foto © bong hyunjung / iStock
Kimchi
Kimjang, nome dado ao evento realizado especialmente para o preparo do kimchi, é parte fundamental da culinária tradicional coreana. É feito tanto na Coreia do Sul como na Coreia do Norte e, por isso, aparece duas vezes na lista da UNESCO. Kimchi são vegetais salgados e fermentados -- repolho e rabanete são os mais comuns. Os temperos variam de acordo com a região e o gosto regional, mas geralmente incluem gochugaru (flocos de pimenta), alho, gengibre e jeotgal (conserva salgada de frutos do mar). Para quem dispõe de espaço de armazenamento, o kimjang é uma atividade compartilhada entre vizinhos e familiares, com centenas de potes lacrados e empilhados, prontos para serem consumidos durante todo o ano.
A gastronomia francesa e seus rituais
Uma descontraída refeição com variados aperitivos é um elemento essencial na cultura francesa. A UNESCO diz que a refeição deve incluir “pré-driques” (apéritif), pelo menos quatro pratos - entrada, peixe e/ou carne com vegetais, queijo, sobremesa - e terminar com um licor (digestivo). Se isso parece muito, não tema: em sua essência, a experiência gastronômica dos franceses inclui compartilhar e desfrutar de uma refeição com outras pessoas.
Fabricação de pão achatado no Azerbaijão. Foto © geckophotos / iStock
Pão-folha
Lavash, o pão árabe comido no sul do Cáucaso e na Ásia Ocidental, aparece na lista da UNESCO duas vezes: uma por seu papel de destaque na culinária armênia e outra como parte da cultura do Azerbaijão, Irã, Cazaquistão, Quirguistão e Turquia. Lavash geralmente é pão asmo (ou ázimo): uma massa de farinha de trigo e água, amassada e boleada, enrolada em camadas finas, esticada em uma superfície retangular e cozida nas paredes de um forno de barro (como um tandur) por 30-60 segundos. Entre os muitos deliciosos pães árabes da Ásia Ocidental e do Sul do Cáucaso estão o yufka turco, feito apenas com azeite de oliva e farinha de trigo, e o katama do Quirguistão, um pão achatado crocante e recheado com cebolas caramelizadas.
Trabalhando na massa de pizza napolitana. Foto © Zummolo / iStock
Pizza napolitana
Não é a pizza em si que é patrimônio intangível, mas as pessoas que preparam e assam a massa em um forno à lenha -- o pizzaiolo napolitano. Tem o mestre pizzaiolo, o pizzaiolo e o padeiro, nomenclatura que depende da experiência de cada um. O que torna uma pizza uma autêntica napolitana? A Associazione Verace Pizza Napoletana diz que a massa deve ser feita com farinha 0 ou 00 de alto nível proteico, amassada à mão e coberta com fior di latte (queijo muito fresco feito com leite de vaca) ou muçarela de búfala, tomates San Marzano, manjericão e azeite de oliva extravirgem. Em um forno à lenha aquecido a 420ºC, em 90 segundos você terá uma pizza com uma crosta engomada, fofa e levemente tostada.
Cozinhando mingau de farinha de milho. Foto © EunikaSopotnicka / iStock
Nsima
Este alimento típico do Malawi é um mingau feito com farinha de milho, engrossado até que se obtenha porções sólidas. Nsima é servido com quase tudo -- sopas e ensopados, carne ou peixe picante e vegetais cozidos, como folhas de amaranto, abóbora ou mostarda. Para comer nsima, pegue um pouco do mingau, enrole-o em uma bola e afunde a massa no meio para colher melhor a sopa ou o molho. Nsima pertence a uma família de mingaus amplamente consumidos em toda a África subsaariana, de Ugali, região dos Grandes Lagos africanos, a Sadza, no Zimbábue.
Centro de vendedores ambulantes Lau Pa Sat, Cingapura. Foto © Aaron Massarano / iStock
Cultura Hawker de Cingapura
A UNESCO acerta ao chamar os Hawker Centers, praças de alimentação de ambulantes de Cingapura, de “salas de jantar comunitárias”. Esses restaurantes casuais, agitados e ao ar livre, têm dezenas, às vezes até centenas, de barracas que vendem uma enorme variedade de comidas a preços acessíveis. Eles são receptivos a todos e atraem visitantes e residentes de Cingapura. Imagine o que há de melhor em um tour gastronômico, tudo sob o mesmo teto, como satay, prata (massa parecida com uma panqueca), arroz de frango, laksa, nasi goreng, torrada de kaya... a lista é infinita. Para conhecer um autêntico centro de vendedores ambulantes, você terá de ir a Cingapura - uma viagem maravilhosa para todos que adoram comer.
Um exemplo de café da manhã japonês. Foto © kuppa_rock / iStock
Washoku
O washoku, a cozinha tradicional japonesa, entrou para a lista da UNESCO em 2013. É uma cozinha que favorece o uso intensivo de ingredientes locais e naturais, como arroz, peixe, vegetais, plantas silvestres comestíveis, com bastante respeito às estações do ano.
Escrito por Sophie Friedman e adaptado pela equipe Guia MICHELIN Brasil