Novidades 2 minutos 18 Dezembro 2023

Pratos de nome e sobrenome

Você pode não saber quem foi Oswaldo Euclides de Sousa Aranha, mas é possível que já tenha comido o PF que ganhou o nome deste político gaúcho. Além do “Filé à Oswaldo Aranha”, outros pratos brasileiros receberam o nome de personagens reais que criaram ou inspiraram as receitas famosas.

Oswaldo Euclides de Souza Aranha foi um político gaúcho, que ganhou destaque no cenário nacional na década de 1930, quando foi ministro do governo Getúlio Vargas. Nesta época, ele frequentava um restaurante no Rio de Janeiro e, conta a história, pedia quase que diariamente o mesmo prato: um filé mignon alto e suculento, coberto com alho frito e acompanhado de arroz, farofa e batatas. Apelidado de “Filé à Oswaldo Aranha”, o PF do político despertou o interesse de outros clientes do local e não demorou muito para que ele se popularizasse, chegando a outros restaurantes de várias partes do Brasil.

Essa não é a única história da gastronomia nacional em que um prato recebeu o nome de uma pessoa real, que foi inspiração ou a própria criadora da receita. É o caso do “Bolo Souza Leão”, que parece ter surgido em meados do século 19 pelas mãos de Dona Rita de Cássia Souza Leão Bezerra Cavalcanti. Casada com um poderoso proprietário de terras em Pernambuco durante o ciclo da cana, ela se baseou nos tradicionais doces conventuais portugueses e adaptou a receita com ingredientes locais, acrescentando às gemas de ovos, mandioca e leite de coco. Chamado de “o rei dos bolos”, o Souza Leão foi servido ao imperador Dom Pedro II e sua mulher Teresa Cristina durante uma visita à região, recebendo o título de Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco.

Bolo Souza Leão foi servido ao imperador do Brasil

Outra receita que ostenta esse mesmo título, mas no estado de Goiás, também foi batizada com o nome de uma pessoa. Bem, nesse caso, com um apelido. Já ouviu falar em “Chica Doida”? Trata-se de um prato à base de milho inventado há mais de 70 anos na cozinha de Dona Petronilha e Sr. João Batista da Rocha, moradores de Quirinópolis. Eles faziam pamonha, mas a palha do milho usada para embalar o preparo acabou. Foi aí que tiveram a ideia de aproveitar a massa pronta para criar um novo prato, acrescentando itens como linguiça, queijo, cebola e alho. E onde a Chica entrou na história? Francisca era a empregada da casa e, dizem, pesou a mão na hora de colocar pimenta malagueta na receita. Ao provar o prato e sentir a picância, o Sr. João teria dito “É uma coisa de doido! Vai se chamar “Chica Doida”. E assim foi.

É da mesma época a curiosa lenda do biscoito Monteiro Lopes. Os comerciantes paraenses Manoel Monteiro e Antônio Lopes produziam biscoitos amanteigados, um em versão tradicional e o outro com chocolate. Eles tinham uma rixa antiga, que perdurou anos, até que, no maior estilo Romeu e Julieta, o filho de um se casou com a filha do outro. O casal decidiu então unir os dois sabores em um único biscoito, metade preto e metade branco, dando o sobrenome das duas famílias.

Biscoito Monteiro Lopes une a história de duas famílias do Pará

Mais um prato com história bastante curiosa: o fazendeiro e comerciante Simplício Dias da Silva criava gado em sua propriedade, na antiga Vila de São João da Parnaíba, no Piauí, exportando couro e utilizando a carne para produção de charque. Contam que os escravos da fazenda teriam criado, de forma improvisada, um prato com arroz, legumes e o charque ali feito por volta de 1850. A dona da casa, Maria Isabel, esposa do fazendeiro, experimentou e gostou tanto da receita que ficou decido que se chamaria Arroz Maria Isabel.

Nossa última história vem dos anos 1980. Um jornalista era cliente fiel de uma churrascaria de São Paulo e, um dia, teria reclamado do “arroz branco” que sempre acompanhava as carnes. O mâitre pediu ao cozinheiro para incrementar a receita, que ganhou ovo e batata palha. Para o mâitre, corinthiano de carteirinha, a combinação amarelada lembrava os cabelos de Biro-Biro, ídolo do seu time. Com o tempo, o acompanhamento ganhou mais ingredientes, como bacon, cebola e salsinha, mas o nome permaneceu: “Arroz Biro-Biro”.

Que delícia de histórias, que delícia de pratos!

*Foto de capa: Filé à Oswaldo Aranha ganhou nome de político gaúcho

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