Na gastronomia brasileira não é raro encontrarmos pratos e quitutes com nomes, digamos, curiosos. Às vezes estranhos, outras, engraçados, os nomes podem estar ligados à aparência, aos ingredientes da receita ou até mesmo explicar a origem da receita, resgatando histórias que são contatadas e recontadas há muito tempo.
Muitas dessas especialidades estão ligados a culinárias regionais e, por isso, costumam chamar a atenção de turistas e visitantes quando se deparam com os nomes incomuns. Mas há também delícias que já estão tão presentes na mesa brasileira que nem paramos para pensar de onde vêm seus nomes “diferentões”.
Vamos conhecer alguns deles?
Vaca atolada
Preparado com pedaços de costela bovina muito bem cozidos e mandioca, esse prato da cozinha caipira se tornou popular em muitas partes do Brasil. Sua criação é creditada aos tropeiros, comerciantes que percorriam o país em tropas, levando mercadorias e conduzindo gado. Uma das hipóteses é que quando chovia muito e eles não podiam avançar no percurso, aproveitavam para se alimentar e um dos itens mais comuns das refeições era uma carne que conservam imersa em gordura. Outra versão diz que se um gado encalhasse por causa das tempestades, esse animal era sacrificado e sua carne servida ao grupo.
Origem da Vaca atolada está ligada às viagens dos tropeiros
Suvaco de cobra
Se você lesse “Suvaco de cobra” no menu de um restaurante de João Pessoa, qual seria sua reação? Por mais estranho que o nome soe para a maioria dos brasileiros, esse é um delicioso prato tipicamente paraibano. Ele é feito com carne de sol, que pode ser moída ou desfiada, e refogada na manteiga de garrafa, junto com ingredientes como cebola e milho. É comum ser servido com mandioca. Mas de onde veio o nome, já que cobra nem axila tem? A resposta, dizem, vem daí mesmo. Foi um jeito de expressarem que a receita é tão boa que parece que “não existe”. Te convenceu?
Mão de Vaca
Esse é mais simples de entender, afinal, mão de vaca nada mais é do que a perna traseira do boi, também chamada de mocotó. Mais popular no Nordeste do país, o prato é um guisado potente, já que além da carne, inclui osso e tutano. Com características marcantes, tem quem ame e quem não passe nem perto. No Piauí, um dos almoços de domingo mais tradicionais é a mão de vaca acompanhada de polenta.
Roupa velha
Sabe quando você faz aquela “limpa” na geladeira e aproveita tudo o que estava meio esquecido por ali? Essa é a proposta desse prato, transformar o velho em novo. Esse “mexidão”, mais conhecido nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, leva sobras de carne, desfiada e refogada com ingredientes como cebola, tomate e pimentão, além de temperos. Existe uma versão inspirada na cozinha portuguesa, que é preparada com bacalhau e pode também ser chamada de Farrapo velho.
Cueca virada
Passando aos doces, temos a inusitada Cueca virada. É uma massa frita, feita com farinha de trigo, açúcar e ovos e polvilhada com açúcar e canela. É tradicional na região Sul do país e o nome está ligado a seu formato. Trançado de fora para dentro, o doce se assemelha, para muitos, com a roupa íntima masculina vista do lado avesso. É também conhecido por Cueca rasgada e Orelha de gato.
Mané pelado
Um delicioso bolo mandioca, queijo e coco é tradicional nos estados de Goiás e Minas Gerais e faz sucesso nas festas juninas. Existem pelo menos duas possibilidades para ter sido assim “batizado”. Umas delas diz respeito a um agricultor que costumava colher mandiocas sem utilizar roupas. A outra vem de um ambulante que saia às ruas sem camisa para vender um bolo de mandioca, que era especialidade de sua mulher.
Bolo Mané pelado tem duas versões para seu nome
Mineiro de botas (ou com botas)
Esta é sobremesa mineira foi supostamente elaborada pela primeira vez no século 18, sendo uma homenagem aos trabalhadores da mineração. Contam que as mulheres preparavam para seus maridos, “homens de botas” esse doce, utilizando queijo Minas, banana-da-terra, açúcar e canela, levado ao forno para assar.
Olho de sogra
Clássico da confeitaria, que já fez parte de muitas festas de aniversário, é feito com coco, gemas de ovos, leite condensado e uma ameixa emoldurando o docinho. Essa característica lembraria o olhar afiado das mães, que sempre vigiavam suas filhas quando elas recebiam pretendentes em casa.
Bicho de pé
Talvez você não saiba, mas esse é um nome registrado no Brasil e somente uma rede de doceria pode utilizá-lo. A receita original é guardada em segredo, mas muitos brigadeiros rosas são feitos por aí com gelatina de morango ou suco em pó. Dizem que primeiramente, morango in natura foi utilizado no preparo e teriam as sementinhas pretas lembrado a aparência de um pé acometido pela doença. Outra versão conta que a invenção era tão irresistível que ninguém conseguia parar de comer, assim como ninguém com o bicho-de-pé consegue parar de se coçar. Não são lá boas referências para falarmos de um doce tão gostoso, não é mesmo?
Muitas outras delícias no país têm nomes pouco comuns: Baba de moça, Orelha de burro, Pé de moleque, Unha de gato, Polenta suja, Orelha de padre, Espera marido, Chico Balanceado... Não se deixe enganar pelos nomes e aproveite a gastronomia brasileira!
*Foto de capa: Apesar do nome, Olho de sogra já fez parte de muitas festas de aniversário