Patrimônio histórico cultural é um tipo de bem que tem relevância na história de uma nação ou na identidade de um grupo social. Ele pode ser material, como monumentos, ruínas e até mesmo cidades, ou imateriais, como manifestações artísticas, festas populares e comidas típicas de um local ou comunidade.
Seja por suas tradições de produção, ingredientes utilizados no preparo ou a importância socioeconômica que representam, muitos alimentos já foram declarados patrimônios culturais da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). É o caso da pizza napolitana, a cerveja belga e a refeição “à francesa”, com suas diferentes etapas.
No Brasil, com o intuito de garantir da preservação de processos culinários, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) reconhece como patrimônio cultural imaterial não apenas receitas brasileiras, mas também os conhecimentos e as tradições que as cercam, tudo registrado no Livro de Registro dos Saberes.
O Ofício das Baianas de Acarajé foi um dos primeiros bens culturais declarados no país, em 2005. A origem do prato, trazido da África para o Brasil, seu processo de preparação, desde o feijão moído em pilão de pedra até a fritura no azeite de dendê, além do ritual para servir e degustar o bolinho foram reconhecidos pelo Iphan.
O Ofício das baianas do acarajé é patrimônio cultural nacional.
O Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas (Minas Gerais) é outro exemplo. A produção tradicional de queijo de leite cru com fermento láctico natural, típica nas regiões do Serro, Serra da Canastra e Salitre, representam um marco da identidade cultural mineira. Durante a dessoragem (retirada do soro) o sal é colocado sobre os queijos, ainda dentro das formas, mas em cada área do estado, modos próprios de fazer foram desenvolvidos, expressos na manipulação do leite, na prensagem e no tempo da cura, que dão sabor específicos aos produtos.
Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas Gerais foi declarado patrimônio pelo Iphan
Também são tombados pelo Iphan a Produção Tradicional e Práticas Socioculturais Associadas a Cajuína (Piauí), bebida não alcoólica, à base de suco do caju, e as Tradições Doceiras da Região de Pelotas e Antiga Pelotas (Rio Grande do Sul), com seus doces finos e coloniais.
Muitas outras iguarias são reconhecidas como patrimônio. Assim como as baianas do acarajé, as tatacazeiras ganharam reconhecimento oficial do estado do Pará. O tacacá, iguaria de origem indígena preparada com tucupi (caldo extraído da mandioca brava) camarão e jambu, ganhou popularidade graças à atividade dessas mulheres que transmitem seu conhecimento de geração em geração e comercializam o prato nas ruas paraenses.
Língua e lábios formigam com o incomparável tacacá paraense
Em Pernambuco, a receita do Bolo de Rolo foi registrada pela Lei Ordinária nº. 379, de 2007. De acordo com ela, seu preparo pode ser um só. A massa fininha feita com farinha de trigo, ovos, manteiga e açúcar deve ser enrolada com uma camada de goiabada derretida.
Bolo de rolo pernambucano é delicado e delicioso
A moqueca capixaba é patrimônio imaterial do Espírito Santo desde 2015. Diferente da receita baiana, que leva azeite de dendê e leite de coco, a moqueca do estado do Sudeste tem como tradição o preparo nas panelas de barro produzidas artesanalmente no bairro de Goiabeiras Velha, em Vitória. Aliás, o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras foi o primeiro bem cultural anotado no Livro de Registro dos Saberes do Iphan, em 2002.
Apesar de atribuída ao interior de São Paulo, a caipirinha foi declarada patrimônio imaterial do estado do Rio de Janeiro em 2019, mais de um século após a criação do drink mais conhecido do país. Já a capital fluminense tombou o bolinho de feijoada, um dos símbolos da boemia carioca.
E, claro, não poderíamos deixar de falar dela, a festejada feijoada! O prato tradicionalíssimo da culinária brasileira é reconhecido como bem cultural imaterial não por um, mas por dois estados brasileiros, Rio de Janeiro e São Paulo.
Feijoada é patrimônio dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo
Conta pra gente: na região onde você mora existe algum alimento que é considerado patrimônio cultural?
*Foto da capa: Doces finos e colonias de Pelotas também estão no Livro de Registro de Saberes do Iphan