Em feiras e mercados é muito comum escolhermos frutas, legumes e verduras pela aparência. Sem manchas na casca, de cores vivas, nem pequenos ou muito grandes, de formato uniforme. Mas o que acontece com os que não são escolhidos? Muitos vão parar no lixo. Números da ONU (Organização das Nações Unidas) apontam que o Brasil descarta anualmente cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos bons para o consumo - o que coloca o país no 10º lugar do ranking dos maiores desperdiçadores de comida.
Para reverter esse quadro, começam a surgir no Brasil boas iniciativas como a Fruta Imperfeita, que compra de pequenos produtores frutas e legumes que seriam descartados por estarem fora do padrão exigido pelo mercado. O cliente escolhe o tamanho da cesta que quer receber em casa e o conteúdo é surpresa, já que os produtos são sazonais, sendo possível especificar itens que não se deseja.
“Vimos que não poderíamos simplesmente resgatar esses alimentos e tentar mandá-los para a indústria – como fazem os grandes produtores – para que eles virassem geleia, por exemplo. Não dava para continuar a esconder o problema”, afirma o fundador Roberto Matsuda. “Entendemos que a solução estava muito mais em conscientizar o consumidor, mostrar que o desperdício alimentar no mundo é de quase 30%, sem falar que não é apenas o alimento sendo jogado fora, mas todo o trabalho do produtor”, acrescenta. Em quase sete anos de operação, o Fruta Imperfeita calcula ter salvo mais de 2 mil toneladas de vegetais.
Fruta Imperfeita calcula ter salvo mais de 2 mil toneladas de alimentos em sete anos
Proposta semelhante tem a empresa Diferente, que oferece frutas, verduras, legumes e temperos orgânicos de produtores certificados até 40% mais baratos que a concorrência. “Nosso objetivo é deixar cada vez mais claro que vegetais ‘fora do padrão’ estão longe de serem ‘imperfeitos’. Uma mandioca ótima para o consumo pode ser descartada somente por não caber nas embalagens de bandejas usadas no mercado tradicional. O consumidor não sabe disso e, quando compartilhamos essas informações, ele fica tão indignado quanto a gente”, diz o CMO Saulo Marti.
Trabalhando com slogans como “Não julgue pela casca” e “Fresquinhos & Sem Frescura” para gerar impacto e reflexão nas pessoas, o executivo enfatiza que não há nenhum fundamento em impor uma estética aos vegetais, até porque a maioria deles passará por algum tipo de processamento antes do consumo, sendo descascados, picados ou cozidos. “Estamos falando de comida de qualidade e ótima para consumo que acaba na lata do lixo por conta aparência, enquanto milhares de pessoas no Brasil não têm o que comer”.
Food To Save comercializa alimentos que não foram consumidos ao longo do dia ou estão próximos à validade
Outra iniciativa criada para evitar o desperdício de alimentos é a Food to Save. A empresa oferece produtos excedentes de restaurantes, padarias e hortifrutis que não foram consumidos ao longo do dia ou que estão próximos à data de validade. “Em um país onde aproximadamente 125 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar, promover essa conscientização a respeito de alimentos aptos para o consumo e que são descartados é uma forma de provocar a sociedade a repensar seus hábitos”, afirma o CEO e co-fundador Lucas Infante.
Na plataforma, o cliente seleciona o estabelecimento e adquire sacolas surpresas – doce, salgada ou mista – com até 70% de desconto sobre os preços originais. “O atual cenário socioeconômico no Brasil faz com que os valores atrativos atrelados a bons produtos sejam vistos como vantagem econômica primeiramente”. Mas, segundo o empresário, não é só isso que leva as pessoas a se tornarem usuárias da Food to Save. “Nos últimos anos, tivemos uma ascensão importante quando falamos de sustentabilidade e o futuro do nosso planeta. A sociedade vem se mostrando cada vez mais preocupada sobre o que consome e a origem dos produtos”.
Vamos aderir a esse movimento e fazer a diferença?
*Foto da Capa: Diferente trabalha com alimentos orgânicos de produtores certificados considerados fora do padrão do mercado