Novidades 3 minutos 30 Novembro 2022

Na boca do povo

A língua portuguesa é recheada de expressões populares que envolvem os mais diversos tipos de alimentos. Que tal conhecer um pouco mais sobre a origem desses ditos que não saem da boca do povo?

Também chamadas expressões idiomáticas, as expressões populares são construções de sentido figurado, empregadas de forma informal para definir uma situação ou dar expressividade àquilo que queremos dizer. Elas fazem parte do nosso cotidiano, mas, muitas vezes, nem imaginamos como surgiram.

A língua portuguesa é repleta dessas expressões. E, curiosamente, muitas delas envolvem alimentos. A comida não sai da boca no povo, nem na hora de se expressar! Que tal conhecer um pouco mais sobre as possíveis origens de algumas dessas expressões.

Vá plantar batata!
Se tem um tubérculo de sucesso entre as expressões idiomáticas no Brasil, com certeza é a batata. “Sua batata está assando”, “pirar na batatinha” e “é batata!” mostram que este alimento é tão versátil na cozinha quanto na nossa língua. Mandamos alguém “plantar batata” quando queremos encerrar uma conversa fiada ou que nos deixem em paz. A origem da frase provavelmente vem de Portugal, onde quem não tinha qualificação para trabalhar, plantava batatas. Em “O povo português”, o autor Teófilo Braga comenta que, com a decadência de pequenas indústrias, os trabalhadores que ficaram sem emprego eram aconselhados a plantar batata. Já a expressão “é batata!”, usada quando algo é certo, tem duas possíveis origens: uma remonta à Idade Média, quando a batata era um dos alimentos mais valiosos e quando alguém a tinha para trocar, a negociação já era certa. A segunda hipótese sugere que quando agricultores puxavam a planta da terra e conseguiam apanhar batatas, eles exclamavam satisfeitos: “é batata!”.

Encher linguiça
Quando alguém fica de papo-furado, falando muito, sem necessidade ou propriedade do assunto, dizemos que está “enchendo linguiça”. É a expressão gastronômica para nosso famoso “blablablá” pode ter vindo da diferença de padrões alimentares no Brasil. Enquanto os mais ricos podiam comer carne de boa qualidade, o restante da população aproveitava ao máximo as partes menos nobres dos animais, enchendo as tripas de porco com essas carnes “sem importância”.

Encher linguiça é expressão para nosso blablablá

"Pão-duro"
Contam que essa expressão, utilizada para definir aquele tipo de pessoa que não quer gastar dinheiro por nada, surgiu no século XX, no Rio de Janeiro. Um mendigo sempre pedia “qualquer coisa para comer” a quem passava, até mesmo um “pão duro”. Quando ele morreu, descobriu-se que não era mendigo, mas um homem muito rico. Assim “pão-duro” virou sinônimo avareza e mesquinhez.

Chorar as pitangas
A coloração dessa frutinha tipicamente brasileira deu origem à locução, que significa se lamentar ou chorar muito, a ponto de ficar com os olhos avermelhados. Dizem, na verdade, que ela foi derivada da expressão lusitana “chorar lágrimas de sangue”. O sangue, por aqui, foi substituído por pitanga, que em tupi-guarani significa vermelho. De acordo com o folclorista Câmara Cascudo, isso evidencia o contato entre as diferentes culturas que passaram a conviver no Brasil.

Pitanga substituiu sangue em expressão portuguesa

Falar abobrinha
Houve uma época em que a abobrinha era vendida “a preço de banana” no Brasil. Vem daí uma provável explicação para essa expressão popular. Ao relacionar o legume a algo de valor desprezível, dizemos que “fala abobrinha” quem profere uma bobagem, alguma coisa sem relevância. O professor e escritor Ari Riboldi tem outra versão. Segundo ele, entre os anos 1940 e 1960, a alta inflação brasileira fez com que uma nota de mil cruzeiros – que, na época de lançamento, representava uma alta quantia – perdesse seu valor rapidamente. A nota ganhou o apelido de “abobrinha”, reforçando a ideia de insignificância.

Enfiar o pé na jaca
Quem nunca enfiou o “pé na jaca”? A expressão é sinônimo de perder o controle, de exagerar, por exemplo, em algum tipo de comida ou bebida. Mas você sabia que a fruta tropical, adorada por uns e detestada por outros, não fazia parte desta expressão original? Antigamente, se falava “jacá”, uma espécie de cesto onde frutas e legumes eram colocados à venda na frente de bares. Quando um cliente bebia além da conta e saia cambaleante do estabelecimento, o alertavam para não “enfiar o pé no jacá”. Aos poucos, a pronúncia foi mudando até chegar à versão que conhecemos.

Enfiar o pé no jaca é sinônimo de exagero

Sopa no mel
Esse é outro ditado que foi modificado ao longo do tempo. Afinal, é só pensar: usamos a expressão para algo que vem a calhar, que é conveniente. Mas o mel, por mais delicioso que seja, não é um ingrediente que combine muito com sopa... Segundo António Nogueira Santos, autor de “Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas”, a razão para isso pode vir de Portugal, entre os séculos XV e XVI, quando chamavam de “sopa” um pedaço de pão que se “ensopa”, ou seja, que é embebido em caldo ou outro líquido. O termo original seria então “ensopa no mel”, que poderia ser atualizada por um “chucha no mel”, concordam?

Terminar em pizza
Impossível finalizar com outra expressão! A origem dessa frase, que indica que algo errado pode acabar sem punição, está ligada ao futebol. Nos anos 1960, dirigentes do Palmeiras discutiam em reunião assuntos sérios do time. Depois de muitas horas de conversa, bateu aquela fome. Então, eles decidiram transferir o encontro para uma pizzaria. O jornalista esportivo Milton Peruzzi, que cobria a reunião pela Gazeta Esportiva, usou a expressão pela primeira vez na manchete do jornal: “Crise do Palmeiras termina em pizza”.

No final, tudo acaba em pizza


Tem alguma expressão popular com comida que você utiliza em seu dia a dia? Conta para gente!

*Foto da capa: Batata dá origem a diversas expressões populares

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