Você é do tipo de pessoa que gosta de ouvir música enquanto está cozinhando? Se a música pode inspirar na hora de preparar uma receita especial, o caminho contrário também pode acontecer. Muitos artistas já se inspiraram em pratos e ingredientes que exaltam na nossa rica gastronomia para compor clássicos da música popular brasileira.
Vatapá, caruru, mungunzá e umbu estão No Tabuleiro da Baiana. A música de Ary Barroso homenageia a figura da baiana do acarajé, unindo elementos típicos da cultura da Bahia a um samba-batuque cheio de malemolência. Foi originalmente escrita para uma peça de teatro de 1936, com Grande Otelo, mas teve gravação de Carmen Miranda e Luís Barbosa e, nos anos 1980, ganhou novas versões nas vozes de Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia e João Gilberto.
Comida baiana inspirou artistas como Dorival Caymmi e Ary Barroso
Dorival Caymmi também foi influenciado pela gastronomia de sua terra natal. No samba Vatapá, de 1942, o soteropolitano dá a “receita musicada” do prato afro-brasileiro, ensinando que primeiro tem que fazer o fubá, depois o dendê para então procurar uma nega baiana que saiba mexer. Em versos, ele cita os ingredientes. “Bota castanha de caju um bocadinho mais. Pimenta malagueta um bocadinho mais. Amendoim, camarão, rala um coco”.
Chico Buarque fez o mesmo, mas com Feijoada Completa. O samba de 1978 narra um pedido à mulher: os amigos estão chegando com fome, então é melhor botar água no feijão e deixar engrossar. “Um montão de torresmo pra acompanhar. Arroz branco, farofa e a malagueta. A laranja-bahia ou da seleta. Joga o paio, carne seca, toucinho no caldeirão. E vamos botar água no feijão”. Difícil resistir, não?
Torresmo à Milanesa é um samba de 1979, escrito por Adoniran Barbosa, em parceria com Carlinhos Vergueiro, e cantado na companhia de Clementina de Jesus. Com simplicidade, retrata a realidade de trabalhadores da construção civil, que se sentam nas calçadas, às 11h, conversando sobre o que têm para almoçar. “Que é que você ‘troxe’ na marmita, Dito? ‘Troxe’ ovo frito, ‘troxe’ ovo frito. E você, beleza, o que é que você ‘troxe’? Arroz com feijão e um torresmo à milanesa”.
Em 2001, o alagoano Djavan se voltou às suas origens para lançar Farinha, música que enaltece este produto feito da mandioca que está “no sangue do nordestino”. A letra explica que a farinha é feita de uma planta da família das euforbiáceas, de nome manihot, mas apelidada de macaxeira. “Você não sabe o que é farinha boa. Farinha é a que a mãe me manda lá de Alagoas”, diz o cantor e compositor.
Caviar não faz parte do cardápio do brasileiro comum e é isso o que canta Zeca Pagodinho neste samba de 2002, escrito pelo Trio Calafrio. A partir da iguaria, a música faz uma crítica social bem-humorada, apontando que caviar é comida de rico, que poucos comem, enquanto muitos passam fome. “Sou mais ovo frito. Farofa e torresmo”, ele resume. Se for com uma “gelada” então, bem ao estilo Zeca, melhor ainda!
Encerramos nossa playlist com as muitas gostosuras de Não é proibido, de Marisa Monte. Composto em parceria com Seu Jorge e Dadi, o divertido single de 2008 nos faz sentir crianças, doidas por um docinho (ou muitos deles!). “Jujuba, bananada, pipoca. Cocada, queijadinha, sorvete. Chiclete, sundae de chocolate”. Está tudo liberado e a cantora só pede para deixar a tristeza de fora. “Traz todo mundo, tá convidado, é só chegar”.
*Foto de capa: Chico Buarque dá a receita de uma feijoada completa em samba de 1978
