Travel 6 minutos 25 Junho 2024

2 dias na Madeira

De passagem pela pérola do Atlântico? Descubra uma mão cheia de sugestões de sítios para visitar, comer e se hospedar.

Há séculos que a ilha da Madeira sabe bem o que é ser um destino turístico de excelência. Foi nos finais do século XVIII, inícios de XIX, que esta região autónoma portuguesa se consolidou como sinónimo de férias, descanso e divertimento. E nada disso mudou com o passar dos tempos. Da beleza natural à gastronomia de topo, não falta nada a esta ilha subtropical portuguesa. Se está a planear visitar, tome nota das sugestões que se seguem: há dicas para os amantes das caminhadas, para os gastrónomos mais aventureiros e para quem simplesmente quer aproveitar ao máximo o mar e o sol.

Dia 1: Para amantes da natureza

Manhã

O dia começa rodeado de verde. Na Quinta da Casa Branca, basta abrir a janela para sentir o aroma dos jardins que envolvem este boutique hotel que nasce de uma quinta fundada em meados do século XIX pela família Leacock, os antepassados dos atuais proprietários que têm na sua linhagem o nome de John Leacock, um dos pioneiros do comércio de vinho Madeira para o Reino Unido. Dentro dos seis hectares da propriedade, encontra um edifício mais moderno — onde se concentram grande parte dos quartos —, uma mansão com cinco novas suítes e outra villa construída no século XIX, a antiga casa da família. Independentemente de onde ficar, terá sempre a uns metros de distância não só os luxuriantes jardins da propriedade, mas também uma plantação de bananeira com cerca de dois hectares — o local ideal para um passeio matinal.

Se não se importar de acordar um pouco mais cedo para partir numa aventura, rumar ao Pico do Areeiro logo pelas primeiras horas da manhã pode ser a opção ideal: este é um dos pontos mais altos da ilha e o palco ideal para ver um nascer do sol impressionante. Quando aqui chegar (existem várias empresas com tours organizados, mas se tiver carro e GPS consegue lá chegar com facilidade), absorva esta beleza ao atravessar o trilho que serpenteia esta formação geológica.

A Quinta da Casa Branca e a natureza que a rodeia. © Quinta da Casa Branca
A Quinta da Casa Branca e a natureza que a rodeia. © Quinta da Casa Branca

Almoço

No regresso ao Funchal, pode passar no restaurante Horta, um relaxado novo poiso onde os vegetais são os protagonistas. Com refeições leves, onde frutas e legumes são a estrela — apesar de carne e peixe também fazerem parte do menu —, pode ser a opção ideal para recarregar baterias. Experimente o Húmus de pimentos assados com cenoura ou o Filete de espada com nage de mexilhão. Se estiver com um apetite para algo mais tradicional, o Casal da Penha (detentor de um Bib Gourmand) é um clássico elegante onde não faltam petiscos tradicionais, como as Lulas grelhadas com azeite e alho ou as icónicas Lapas grelhadas, e pratos principais, como o Bife de atum à madeirense ou a Espetada regional.

Se estiver à procura de um digestivo, dispense uísques, licores ou conhaques: na madeira bebe-se poncha (antes, depois ou fora das refeições, claro), uma mistura tradicional de água-ardente de cana-de-açúcar, limão e mel. É muito fácil de encontrar este cocktail por toda a ilha, mas, se estiver pela zona da baixa funchalense, o Rei da Poncha pode ser uma boa opção.

No Horta, os vegetais são as estrelas do menu. © Henrique Seruca/Horta
No Horta, os vegetais são as estrelas do menu. © Henrique Seruca/Horta

Tarde

Um dos maiores trunfos da Madeira é o seu clima subtropical. As probabilidades de apanhar espetaculares dias de sol e calor, quando por aqui passar, são, portanto bastantes elevadas. Por isso, faz todo o sentido arranjar sempre algum tempo para desfrutar disso ao máximo. Se não quiser afastar-se muito da zona do Funchal, poderá ter uma boa experiência balnear tanto no Complexo Balnear do Lido, que fica junto à costa e dispõe de uma piscina vigiada de água salgada e de acessos diretos para o mar, como no Complexo Balnear da Barreirinha, que é muito semelhante, embora menor.

Contudo, se estiver disposto a fazer alguns quilómetros rumo ao outro extremo desta ilha, as Piscinas Naturais de Porto Moniz são imperdíveis. A origem vulcânica da Madeira dotou esta zona costeira a norte do Funchal de uma série de pequenas enseadas de água salgada, sempre em constante renovação — graças ao movimento natural das marés — e suficientemente abrigadas da ondulação para proporcionar banhos tranquilos.

O azul destas piscinas naturais é uma das suas imagens de marca. © GettyImages
O azul destas piscinas naturais é uma das suas imagens de marca. © GettyImages

Jantar

A melhor forma de terminar um dia comprido é claramente comendo bem — e não faltam opções para isso. Contudo, antes de se sentar à mesa, poderá sempre beber um copo num espaçoso terraço em cima do mar, de onde despedir-se do sol que viu nascer no início do dia. Essa varanda fica no restaurante Villa Cipriani, espaço já incontornável na ilha da Madeira, onde vai encontrar sabores italianos genuínos, construídos com os melhores ingredientes locais. No menu há sugestões deliciosas como o Bacalhau com tomate confitado, óleo de salsa e crocante de polenta; o Tagliolini de massa fresca com lagosta e bisque de marisco; ou o Bife com batatas cremosas, cogumelos e trufa preta.

Outra opção pode ser também o já icónico Il Gallo d’Oro, que não só tem duas Estrelas MICHELIN, como também tem uma Estrela Verde. Liderado pelo chef Benoît Sinthon, este espaço elegante e criativo é um fine dining puro. Não há como resistir a um menu de degustação por onde desfilam vários momentos nos quais a essência da ilha é apresentada de forma comestível. Produtos típicos como a banana, o maracujá, o espada e muitos, muitos mais, são unidos de forma harmoniosa e, claro, deliciosa.

A criatividade e respeito ao produto local fazem brilhar a comida do Il Gallo d’Oro © Il Gallo d’Oro
A criatividade e respeito ao produto local fazem brilhar a comida do Il Gallo d’Oro © Il Gallo d’Oro

De barriga e alma cheia, vai encontrar no conforto e sofisticação do hotel Reid’s Palace um dos sítios ideais para descansar e vai poder gabar-se de dormir no mesmo lugar onde Winston Churchill passou férias. Este autêntico ícone madeirense já conta com mais de um século de história e é capaz de proporcionar uma autêntica viagem no tempo, muito graças aos vários espaços que ainda mantêm muitos elementos da sua decoração original — apesar de vários quartos e outras zonas comuns terem já sido atualizado ao gosto e funcionalidade contemporâneo.



Dia 2: Um paraíso para foodies

Manhã

Se passou a noite no charmoso Reid’s Palace, pode começar o dia a tomar um pequeno-almoço de sonho junto à piscina, com o mar no horizonte, antes de partir em busca das delícias da Madeira. Uma delas encontra na Fábrica de Santo António, o primeiro local de produção de bolachas e biscoitos da ilha, que foi fundada em 1893. Claro que hoje este tipo de guloseimas são imperdíveis, mas o famoso bolo de mel madeirense é também um ex-líbris.

Ao contrário do que se pode acreditar, a Madeira não é só conhecida pelas bananas ou pelo vinho: a produção de açúcar, outrora conhecido até como “ouro branco”, tem um papel importantíssimo na história e no desenvolvimento económico desta região autónoma portuguesa e por isso mesmo pode ser interessante conhecer melhor as tradições do seu cultivo. Na Calheta, vai encontrar o Museu e Engenho da Cana-de-Açúcar, localizado numa antiga fábrica deste adoçante. Aqui, poderá aprender todos os detalhes sobre a transformação da cana-sacarina em mel ou em aguardente de cana, dois produtos regionais de enorme projeção nacional e internacional.

Charme intemporal dos quartos do Reid’s Palace. © Reid’s Palace
Charme intemporal dos quartos do Reid’s Palace. © Reid’s Palace

Almoço

Agora que já tem os níveis de açúcar bem reforçados, dê um salto a Câmara de Lobos e não deixe escapar a oportunidade de conhecer o Vila do Peixe, espaço destacado com um Bib Gourmand, que não só tem uma vista incrível do mar, como também é um dos melhores sítios para comer peixe fresco — como se estivesse no mercado, dirija-se à banca de peixe, escolha as peças que quiser e depois se sente e espere que as sirvam.

Outra alternativa, agora mais perto do centro do Funchal, pode ser o Avista, também ele com um Bib Gourmand. Este “irmão mais novo” do Il Gallo d’Oro, por também ser liderado pelo chef Benoît Sinthon, propõe uma oferta culinária muito focada na riqueza da tradição mediterrânea, mas num registo informal, com pratos pensados para a partilha. À sua espera terá sugestões como o Mil-folhas de aipo bola e maçã verde, o Tártaro de novilho ou os Filetes de espada preto.

O Avista é uma opção interresante e descontraída no centro do Funchal. © Henrique Seruca/Avista
O Avista é uma opção interresante e descontraída no centro do Funchal. © Henrique Seruca/Avista

Tarde

Ainda em Câmara de Lobos vai encontrar a adega Barbeito, um dos produtores mais icónicos de vinho Madeira. Fundado em 1946 por Mário Barbeito de Vasconcelos, este negócio continua a ser gerido pela mesma família e é precisamente na sua sede que vai poder não só conhecer a história detalhada da marca, mas a do vinho Madeira no geral. Há vários tipos de prova que poderá fazer, sendo que alguns deles até incluem visitas à parte mais técnica da adega. Se procurar algo mais central, na zona do Funchal, dirija-se à Blandy’s Wine Lodge, um autêntico oásis vínico criado por esta que é uma das mais antigas marcas de Madeira. Aqui também vai poder fazer todo o tipo de provas, claro, e uma viagem no tempo para perceber a história desta bebida. Se ainda lhe sobrar espaço no estômago para um pequeno petisco antes do jantar, passem pelo Armazém do Sal, um espaço elegante e muito ligado aos sabores tradicionais da região, onde pode provar uma Sopa de peixe da costa ou um simples Tártaro de novilho.

As mesas exteriores do Armazém do Sal. © Ricardo Meira/Armazém do Sal
As mesas exteriores do Armazém do Sal. © Ricardo Meira/Armazém do Sal

Jantar

Um dia dedicado aos prazeres da mesa só podia acabar em grande e por isso mesmo há que destacar duas opções “estreladas” que são incontornáveis. Por um lado há o Desarma, uma das mais recentes Estrelas MICHELIN de Portugal, que fica no Funchal e é liderada pelo chef Octávio Freitas. Muito focado nos sabores locais — seja no peixe, na carne, no marisco ou até mesmo nos queijos e nas farinhas —, este espaço é um dos mais concorridos da cidade e merece uma visita. Outra opção é o restaurante William, também com uma Estrela MICHELIN, um pouco mais clássico, mas com igual foco nas tradições gastronómicas da região, apresentadas aqui com uma mistura sólida de elegância e criatividade.

Os pratos do chef Octávio Freitas têm sempre um cuidado estético especial. © Tiago Maya/Desarma
Os pratos do chef Octávio Freitas têm sempre um cuidado estético especial. © Tiago Maya/Desarma

Seja qual for a sua decisão em relação ao jantar, o resto da noite deverá ser passado no imponente Saccharum Resort. Este empreendimento hoteleiro destaca-se pela sua grande ligação a uma imagem sofisticada, muito graças ao estilo característico de Nini Andrade Silva, a designer de interiores e decoradora que ajudou a criar este espaço. De barriga cheia e com mais uma poncha para ajudar a terminar o dia, descanse nos quartos sofisticados e confortáveis deste projeto com a consciência tranquila: conheceu (e comeu) o melhor da Madeira.

Os Saccharum Resort foi decorado por Nini Andrade Silva. © Saccharum Resort
Os Saccharum Resort foi decorado por Nini Andrade Silva. © Saccharum Resort

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Imagem de capa: Vistas do litoral da ilha da Madeira © Gettyimages

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