O Norte de Portugal é uma região conhecida pela mesa farta: das tabernas de Trás-os-Montes às tascas do Porto, onde quer que se vá, a comida é sinónimo de generosidade. Mas comer bem vai muito além da abundância — implica qualidade, bons produtos e rigor na execução. E tudo sabe ainda melhor quando os preços se mantêm acessíveis.
Desde 1997, os inspetores e inspetoras MICHELIN reconhecem os restaurantes com a melhor relação qualidade-preço através da distinção Bib Gourmand. Este prémio destaca locais onde é possível desfrutar de refeições excelentes a um custo especialmente atraente. Embora cada país tenha hábitos e médias de consumo diferentes, o nível de qualidade exigido mantém-se sempre o mesmo.
São nove os restaurantes que ostentam esta distinção no Norte de Portugal. A seguir, descubra cada um deles: sem dúvida, todos merecem uma visita.
Camelo: tradição e generosidade ao melhor preço em Viana do Castelo
Situado a poucos quilómetros de Viana do Castelo, o restaurante Camelo é uma verdadeira instituição minhota, familiar e sempre cheia. Instalado numa casa avarandada, o espaço combina tradição e hospitalidade num ambiente acolhedor que parece atravessar gerações.Na cozinha, a culinária local revela-se em toda a sua plenitude: das emblemáticas bacalhoadas aos rojões, passando pela Vitela barrosã e pelo Cabritinho mamão da Serra d’Arga. Também há espaço para os sabores de festa, como o Arroz de sarrabulho à moda de Ponte de Lima e o tradicional Arroz de galo “pé descalço”. O estabelecimento mantém ainda o seu próprio viveiro de marisco e um aquário de lampreias, além de oferecer uma boa seleção de carnes e até algumas opções vegetarianas, prova de que, aqui, tradição e generosidade andam sempre de mãos dadas.
Contradição, o prazer da partilha em Bragança
Comandado pelos irmãos Óscar e António Geadas, o Contradição é a versão mais descontraída dessa dupla que conquistou notoriedade com o G Pousada, detentor de uma Estrela MICHELIN.Aqui, reafirmam o apego à terra natal por meio de uma cozinha inspirada nas tradições de Trás-os-Montes, mas que fala a linguagem de hoje. O cardápio revisita receitas familiares com foco em produtos locais: do Lagarto de porco bísaro com arroz cremoso de cogumelos ao Lombo de javali com puré e chips de castanha, passando pelas Vieiras com cuscuz de berbigão feito de trigo Barbela, típico da região. Num ambiente rústico e acolhedor, com um terraço perfeito para os dias de verão, o gastrobar dos irmãos celebra o prazer de partilhar à mesa e a hospitalidade transmontana.
Inato Bistrô, sabores internacionais com bases portuguesas em Braga
O nome do restaurante é uma homenagem à forma como a experiência gastronómica se desenrola: em atos — I, II, III e IV —, ou a partir de um menu de degustação composto por sete momentos, pensado como uma verdadeira encenação à mesa.Este original bistrô, liderado pelos jovens chefs Miguel Rodrigues e Tiago Costa, apresenta uma proposta criativa que cruza influências nacionais e internacionais, sempre com produtos de excelência e uma execução rigorosa. Da Focaccia recheada de rabo de boi com suave molho de trufa ao Arroz de marisco com carabineiro, a cozinha revela uma base profundamente portuguesa, mas com o olhar voltado para outras latitudes. Em Braga, cidade marcada por tradições gastronómicas firmes, o restaurante surge como uma lufada de ar fresco. Um espaço onde técnica, imaginação e memória se encontram em perfeita harmonia.
Machado, cozinha caseira e tradicional a bom preço em Maia
Há mais de 30 anos conhecido pelo prato que lhe deu fama — a Vitela assada ao estilo de Lafões, servida em porções generosas —, este restaurante tornou-se uma referência da cozinha tradicional portuguesa.Instalado numa construção antiga de uma pequena aldeia perto de Maia, com atmosfera de casa de avó, dispõe de várias salas independentes, todas de ambiente rústico e acolhedor, decoradas com objetos típicos que evocam a vida no campo. O serviço é simples, mas caloroso, e a comida mantém o sabor caseiro que fez a reputação do estabelecimento. Aqui, sair com fome é, simplesmente, impossível.
Norma, evolução gastronómica e preços moderados em Guimarães
Discreto por fora, o Norma ocupa uma antiga casa que quase passa despercebida entre a vizinhança, mas basta atravessar a porta para descobrir um ambiente sereno, com um terraço que oferece vistas privilegiadas sobre a Igreja de São Gualter, um dos ícones de Guimarães.À frente do projeto está o chef Miguel Marques, que soma no seu currículo passagens por cozinhas de referência em Zurique, Munique e Portugal. A sua proposta parte da ideia de “evolução”, um conceito que o leva a cruzar receitas do passado com técnicas e sensibilidades contemporâneas. O menu de degustação, composto por sete momentos (também disponível em versão vegetariana), muda a cada estação, tal como as opções à la carte e o menu semanal. Entre os pratos que melhor expressam essa filosofia estão o Mexilhão à bulhão pato com funcho, batata e gamba e a surpreendente combinação de Borrego com naan, mandarina e cebola-roxa, exemplos de uma cozinha que respeita a tradição, mas não se deixa limitar por ela.
O Javali, cozinha fiel ao território em Bragança
Desde 2003, este restaurante é uma verdadeira instituição em Bragança, símbolo de uma cozinha de raízes e de uma hospitalidade feita de proximidade. Alberto Gonçalves comanda a sala e a gestão com o cuidado de quem recebe o comensal como em casa, enquanto Maria do Carmo governa o fogão, de onde nascem pratos que preservam o sabor e o tempo das receitas transmontanas.Próximo do Parque Natural de Montesinho, a casa — de ambiente rústico, com pormenores cinegéticos e um nome inspirado num animal de caça comum na região — celebra com orgulho a gastronomia brigantina. Entre travessas fartas e aromas de lenha, a cozinha brilha em pratos como o Javali estufado com castanhas, o Cordeiro à bragançana e o Lombo de javali assado na brasa, exemplos perfeitos de uma culinária generosa e fiel ao território. Aqui, tradição não é passado: é um gesto diário, servido quente, com sabor e alma de Trás-os-Montes.
OMA, inspiração na cozinha da avó com um pé no mundo, no Porto
Alemanha, Baião e Porto encontram-se numa mesma viagem gastronómica no OMA, cujo nome revela a inspiração do restaurante: significa, em alemão, ‘avó’. O projeto é liderado pelo chef Luís Moreira e pela sua companheira Ana Silveira, que trocaram a pequena aldeia de Baião pela vida urbana do Porto. A dupla procura partilhar as suas vivências nas diferentes cidades por onde passou, incluindo a Alemanha, reinterpretando a cozinha tradicional portuguesa com nova roupagem.O chef oferece uma culinária que alia produtos locais e técnicas contemporâneas, sempre com um toque pessoal. A viagem que propõe por Portugal — mas também com algumas inspirações do mundo pelo caminho — tem como foco os produtos na sua melhor estação: uma ode à sazonalidade.
Pátio 44, atmosfera intimista e gastronomia a bons preços no Porto
Em frente ao encantador Jardim de São Lázaro, o mais antigo do Porto, no coração do Bonfim, este restaurante acolhedor nasceu do projeto de três amigos e tem a cozinha entregue aos chefs Simão Soares e Alfonso Ramos, cuja parceria começou atrás dos fogões de outra casa.A proposta centra-se na cozinha tradicional portuguesa, reinterpretada com técnicas modernas e um toque de autoria. Entre os pratos, destacam-se a Punheta de bacalhau com crocante de arroz, a Corvina com beurre blanc e o Fígado de boi com mil-folhas de batata. Esteticamente cuidados, as elaborações podem ser acompanhados por bons cocktails e uma carta de vinhos bem escolhida. O ambiente intimista e o número reduzido de mesas tornam a reserva indispensável.
Tasquinha da Linda, o Atlântico como protagonista em Viana do Castelo
De frente para o mar e junto ao Castelo de Santiago da Barra, este restaurante ocupa um antigo armazém portuário e destaca-se pelos grandes viveiros que abriga — mais fresco, impossível. O ambiente é contemporâneo, mas preserva o espírito genuíno de quem conhece o mar como poucos: os proprietários são grossistas de peixe e, aqui, deram apenas um passo além no processo comercial, servindo o produto que dominam.Não há pratos de carne, apenas peixes e mariscos vendidos ao peso, sempre de qualidade excecional e a preços competitivos. Entre arrozes, grelhados e mariscos fresquíssimos, tudo é preparado com simplicidade e precisão. Para terminar, vale provar as sobremesas da filha de Linda, pasteleira talentosa que cria doces tão belos quanto saborosos.
Imagem de capa: Cozinha inspirada nas raízes de Trás-os-Montes no restaurante Contradição. © Brand22/Contradição