Neste artigo, exploraremos o mundo dos doces conventuais, com destaque especial para o famoso Pastel de Tentúgal e para os Ovos Moles, enquanto incorporamos as perspetivas dos conceituados Chefs António Loureiro, do Restaurante A Cozinha em Guimarães, e José Júlio Vintém, do Restaurante Tomba Lobos.
Os doces conventuais são conhecidos pelos seus ingredientes simples e autênticos, que se combinam de forma harmoniosa para criar verdadeiras delícias. Segundo António Loureiro, ovos, açúcar, amêndoa, chila e outros frutos secos são alguns dos elementos mais importantes para a obtenção de um doce conventual autêntico e de qualidade. José Júlio Vintém acrescenta que ovos de qualidade e açúcar são essenciais para a correta confeção dessas iguarias.
Apesar de terem sido criados há séculos, os doces conventuais continuam a encantar os paladares dos portugueses até hoje. A tradição dessas iguarias tem sido preservada pelos chefes contemporâneos, como afirma António Loureiro. Segundo nos conta, alguns Chefs inspiram-se no receituário tradicional dos doces conventuais, mantendo viva essa herança culinária de tanto saber acumulado.
No entanto, trabalhar com receitas tão antigas e tradicionais apresenta verdadeiros desafios aos Chefs. José Júlio Vintém destaca que a técnica de elaboração dos doces conventuais é cheia de truques e pequenos detalhes que muitas vezes são esquecidos na sua confeção. Equilibrar a tradição e a autenticidade com os padrões nutricionais atuais é um dos maiores desafios enfrentados pelos chefes ao trabalhar com essas receitas.
Mesmo considerando, sem qualquer dúvida, que a tradição e o respeito pela receita original são fundamentais na culinária dos doces conventuais, há algum espaço para a inovação. Os Chefs contemporâneos têm explorado novas técnicas e equipamentos culinários para aligeirar a intensidade dessas iguarias, como menciona José Júlio Vintém. No entanto, é importante respeitar a tradição e não descaracterizar essas receitas centenárias.
Um dos doces conventuais mais conhecidos e apreciados é o Pastel de Tentúgal. Originário da vila de Tentúgal, este doce destaca-se pela sua massa folhada muito delicada e pelo recheio rico e suculento. A sua massa é preparada amassando farinha de trigo, água e banha de porco, em seguida esticada até ficar extremamente fina e uniforme. O recheio é feito com gemas de ovos e açúcar, cozidos até obter uma perfeita consistência cremosa. A massa com o recheio é dobrada e levada ao forno até dourar e a casca ficar crocante. Após o cozimento, é polvilhado com açúcar e canela. O resultado é um pastel delicioso que combina texturas e sabores únicos.
Outro bom exemplo de doces conventuais portugueses são os Ovos Moles, um doce tradicional e emblemático da gastronomia portuguesa, com uma textura suave e um sabor delicado. Originários do Convento de Jesus, em Aveiro, são feitos a partir da combinação de gemas de ovos e açúcar, resultando num creme doce e cremoso. A sua forma característica, muitas vezes moldada em conchas ou outros formatos decorativos, adiciona um toque especial à sua apresentação. Parece um trabalho feito por um Ilustrador ou um Designer Gráfico. Talvez por isso, os Ovos Moles têm um lugar especial no coração dos portugueses, sendo apreciados como um verdadeiro elemento da identidade nacional. Os ovos moles estão para a doçaria tal como os Azulejos estão para a decoração de habitações e monumentos em Portugal.
Com base nas respostas dos Chefs entrevistados, é evidente que os doces conventuais, como o Pastel de Tentúgal ou os Ovos Moles, têm o potencial de se tornarem ainda mais populares e conhecidos fora de Portugal. No entanto, isso requer uma divulgação adequada e investimento na produção de receitas autênticas.
O Restaurante Tomba Lobos, sob a liderança do reconhecido Chef José Júlio Vintém, tem sido um exemplo da forma como os doces conventuais podem ser incorporados de forma criativa e respeitosa numa carta gastronómica. Como mencionado por Vintém, os doces conventuais sempre fizeram parte da Carta do restaurante, e a abordagem adotada é a de aligeirar a intensidade dessas iguarias, incorporando outros ingredientes para equilibrar o sabor e proporcionar uma experiência gastronómica única.
A inovação na cozinha dos doces conventuais tem como limite o respeito à tradição e aos nomes originais das receitas. É possível explorar novas técnicas culinárias, ingredientes e apresentações, mas é igualmente obrigatório manter a essência e a identidade desses doces que têm raízes históricas muito profundas.
Uma das oportunidades para aumentar a popularidade dos doces conventuais além das fronteiras portuguesas é investir na divulgação e na produção de receitas genuínas. Na opinião de José Júlio Vintém, “assim como o famoso Pastel de Nata conquistou admiradores em todo o mundo, há muitos outros doces conventuais igualmente deliciosos e merecedores de reconhecimento internacional”.
Os doces conventuais, com séculos de história e sabores únicos, são elementos deliciosos da nossa cozinha que encantam o paladar e nos transportam para uma época em que os conventos eram lugares cheios de vida e inundados pelos aromas dos verdadeiros tesouros culinários que aí eram produzidos.
Valorizar e preservar a tradição destes doces, ao mesmo tempo em que abraçamos a inovação e procuramos reconhecimento, é sempre o maior objetivo. Com Chefs contemporâneos como António Loureiro e José Júlio Vintém, que combinam conhecimento e paixão, estas delícias da doçaria portuguesa continuarão a ser apreciadas e celebradas.
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Foto de cabeçalho: Ovos moles © Shutterstock