César Costa, do Bib Gourmand Corrutela, gosta de preparar tudo do zero na cozinha do seu restaurante. Ele mói o trigo para fazer a farinha do pão de fermentação natural, torra as amêndoas de cacau (que chegam do interior da Bahia) para fabricar o próprio chocolate, cura ovas de tainha para ter bottarga à disposição na despensa... Princípio que assimilou na infância, quase sem perceber, ao observar dona Toninha a produzir o próprio café. “Minha mãe tinha uns pés de café no quintal de casa, dava para colher uma saca por vez. Ela mesma secava, torrava e moía os grãos”, relembra o chef.
Para além disso, César conta que aprendeu a temperar comida com a mãe, que é mineira e cozinheira de mão cheia. “Também aprendi com ela a limpar tachos de cobre com limão e sal, coisa que repito aqui no restaurante”. Nesse tacho, aliás, o chef prepara compotas de frutas, seguindo as receitas de dona Toninha. A de tangerina, feita com a casca, cozinha devagarinho até amolecer e perder um pouco o amargor. “Sirvo com um bolinho úmido, com calda de tangerina e cachaça e mousse de chocolate.”
Pesquisadora ferrenha da cozinha brasileira, Mara dedica-se, desde então, a garimpar receitas Brasil afora - como o tacacá, típico da Amazônia - para introduzir no restaurante. Antes disso, o cardápio tinha um sotaque mais caipira, com pratos do interior de São Paulo, “onde minha mãe aprendeu a cozinhar”. Apesar dos pitacos, Mara garante que a matriz da cozinha do Tordesilhas, os temperos, os modos de preparo, de valorizar o ingrediente, tudo é legado de dona Dega, que até o fim do ano passado dava expediente na cozinha. “Ela ensinou todo mundo ali, até o gestual dos cozinheiros é igual ao dela”, diz.
Fora da cozinha, mas ainda com um pé no restaurante, dona Myung é quem cuida da horta que fornece verduras, hortaliças, flores comestíveis e ervas coreanas para o Komah. “Assim conseguimos manter o padrão de produção”, explica Shin. Os cogumelos também são cultivados por ela, no quintal da própria casa, na serra da Cantareira.