Cefalópode da família do polvo e da lula, o choco tem um corpo largo, ovalado, e barbatanas finas. Com oito braços e dois tentáculos, possui uma concha interna calcificada e uma bolsa de tinta que é usada quando se sente ameaçado. Alimenta-se de peixes, camarões e outros moluscos e vive entre um ano, ano e meio. Por lei, não pode ser pescado com menos de 10 centímetros de comprimento.
Em Setúbal, é mais comum vê-lo fatiado finamente e frito num polme, servido simples com maionese, como entrada ou petisco, ou guarnecido com batatas fritas e salada, quando prato principal. Nem sempre foi assim, já que, originalmente, o choco era frito apenas em azeite e sal (por vezes, juntava-se o alho). Foi na década de 70 que a moda de envolver as tiras em polme ou farinha de milho pegou, numa eficaz operação de marketing familiar que garante romarias até aos dias de hoje — algumas das mais conhecidas casas de choco frito de Setúbal, foram fundadas por pessoas que mantinham laços familiares entre si. Também o choco grelhado faz parte dos menus sadinos.
No Algarve, encontramo-lo acompanhado por favas ou ervilhas (neste caso, usam-se os chocos maiores, também conhecidos por “chibas”, que rondam os 2-3 quilos, apanhados, precisamente, na época das favas, final do inverno e início da primavera), guisado com grão ou nos tradicionais choquinhos fritos com tinta — conhecidos como “choquinhos à algarvia”. Também é comum vê-lo seco, para ser assado mais tarde, como petisco.
Apesar de ser mais comum ver o choco frito ou grelhado nos restaurantes tradicionais, na cozinha de autor encontramo-lo reinventado — por vezes de forma quase impercetível — em receitas originais. Escolhemos sete restaurantes entre Lisboa, Setúbal e o Algarve, onde pode degustar choco de diferentes maneiras.
Ofício - Tasco Atípico: a ilusão dos sentidos
Diz que é um tasco atípico e não temos dificuldade em perceber o porquê. Descascando o design moderno, o Ofício - Tasco Atípico (Bib Gourmand) mantém uma carta recheada de sabores tradicionais. Nela encontramos torresmo, enguia fumada, pezinhos de porco, codorniz, raia e choco. Este último é servido de forma original, com o cefalópode a transformar-se num arroz caldoso, com um molho feito a partir das suas aparas. Engana o olhar e o estômago.Zunzum Gastrobar: choco com todos
Pretende ser um espaço “descontraído” e de comida “descomplicada” com o que de melhor Portugal tem para oferecer. O Zunzum Gastrobar (Bib Gourmand) fica no Terminal de Cruzeiros de Lisboa e é o restaurante onde Marlene Vieira brinca com sabores nacionais e técnicas vindas de fora. Aqui o choco é servido como prato principal num colorido caril de bacalhau e choco com vegetais e migas saloias.Xtoria: em terra de choco, quem inova é rei
Está na terra do choco frito por excelência, Setúbal, mas arriscou inovar. O Xtoria (Bib Gourmand) serve uma entrada na qual o cefalópode é acompanhado por tamboril com mexilhão num velouté de tomate cherry e pimentos vermelhos. A carta inclui outras gulodices como Bola de Berlim com língua de vaca ou Chicharro glaceado com soja e mel fermentado. Para os mais pequenos, há Nuggets de choco com arroz branco.Al Sud: duo de cefalópodes com alcagoitas
Tem uma vista deslumbrante para o estuário do rio Alvor e fica no Palmares Ocean Living & Golf, em Lagos. O Al Sud (uma Estrela MICHELIN), com o chef Louis Anjos na liderança, dá palco aos ingredientes locais, com especial destaque para o que vem do mar. O choco surge nas entradas e num dos pratos principais, a acompanhar a lula e as alcagoitas, nome dado aos amendoins pelos algarvios.Ocean: do Algarve à Tailândia
É, literalmente, uma viagem de sabores, a proposta que Hans Neuner apresenta no Ocean, restaurante com duas Estrelas MICHELIN do Vila Vita Parc Resort & Spa, em Porches. Aqui o choco surge no prato “Uma noite em Banguecoque” na companhia de carabineiro, couve-rábano e pimenta kampot, um dos 14 momentos que integra o novo menu intitulado Expedição pela Ásia.2 Passos: tiras panadas à beira-mar
Fica em cima da praia do Ancão e em pleno Parque Natural da Ria Formosa, literalmente a dois passos do mar e de um bosque de pinheiros mansos. Na carta do 2 Passos, em Almancil, predominam os mariscos e peixes locais, vindos diretamente do mercado de Quarteira. Do menu fazem parte os petiscos da época, como amêijoas, gambas ou ostras, sem esquecer as tiras de choco panadas.A Ver Tavira: choco da Ria Formosa para o prato
Com o chef Luís Brito à frente da cozinha e Cláudia Abrantes responsável pela sala e sommelier, o A Ver Tavira entrou triunfante na constelação MICHELIN no final de 2021, pouco depois do casal mudar o conceito do restaurante. Situado no centro histórico de uma das cidades mais bonitas do Algarve, tem uma carta rica em referências pessoais e locais, com o choco da Ria Formosa a ser servido com arroz e limão verde.Foto de capa: Choco servido de forma original no © Ofício - Tasco Atípico