É difícil traduzir a palavra “petisco” para alguém que não fale português. Mais ainda o verbo atrelado a ela, “petiscar”, que surgiu de um comportamento tão próprio à mesa que impôs até uma conjugação, uma ação própria para indicar uma maneira muito especial que os portugueses têm de comer. Alguns dicionários dão conta que petiscar “é comer lentamente”. Outros dizem que é “saborear a comida”, “comer um pouco de algo para provar” ou “por falta de apetite” (este último claramente indica que quem escreveu a definição conhece pouco sobre a identidade portuguesa, afinal).
Petiscar é comer de forma curiosa, sempre disposto a provar mais; mas também de maneira generosa, valorizando a partilha. Embora as ementas dos restaurantes geralmente apresentem os seus “petiscos” na secção reservada às entradas, é possível dizer que se pode petiscar um pouco por todo o menu — até mesmo nas sobremesas, já que os portugueses criaram o “pijaminha” exatamente para isso: uma seleção de pequenas amostras de todos os doces para não ter que decidir qual provar. Um “bocadinho” de todos, já agora.
Dos pipis aos pastéis de bacalhau, dos omnipresentes rissóis às amêijoas à Bulhão Pato, das bifanas ao leitão à Bairrada servido em quadrados perfeitos, Portugal é um país que petisca. E como um ditado local diz que “quem não arrisca não petisca”, propomos uma rota de restaurantes por todo o país onde petiscar, mais do que uma maneira especial de comer, é também uma devoção.
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Do mar para a mesa: Tasquinha da Linda
Em Viana do Castelo, Deolinda Ferreira transformou um antigo armazém de pesca num restaurante com alma de tasca (por isso o nome!), onde o que vem do mar tem destaque à mesa. O resultado é uma espécie de santuário gastronómico, para onde centenas de pessoas peregrinam — muitas delas de longe — em busca dos seus deliciosos petiscos, como o Rissol de berbigão, a Navalheira, as Gambas grelhadas e os infalíveis arrozes. Linda, como é conhecida na cidade, criou os seus próprios viveiros de mariscos para servir tudo o mais fresco possível e trabalha com excelência em todos os detalhes, desde a excelente carta de vinhos até as sobremesas. Feitos por sua filha, que se dedicou a estudar pastelaria profissional, os doces poderiam bem estar em vitrines luxuosas de Paris.Tradição e sabor no Alto Minho: A Carvalheira
Aberto há quase 30 anos por dois irmãos nascidos em Ponte de Lima, o restaurante é uma celebração da cozinha do Alto Minho, com vista para o verde que domina a região e jardins que se veem por todas as janelas. O menu é conhecido pelo Bacalhau com broa e pelo Cabrito assado lentamente, mas até chegar a eles, há muito para desbravar: Ovas de bacalhau, Alheiras, Feijões com tripas, Cogumelos da estação, Favas com fumados — aqui, não é preciso pressa. Produto e receituário tradicional definem o trabalho dos irmãos Gomes, que levam o negócio familiar com paixão e seriedade.Um atual restaurante “de outros tempos”: Petiscas
Só o nome já fazia deste restaurante um excelente concorrente para estar nesta lista. Mas a oferta do menu do Petiscas, um espaço charmoso comandado por marido e mulher no centro de Ponte de Lima, foi também decisiva. Petiscos regionais, como Petinga, Pataniscas e Rojões, estão entre as excelentes opções do que se serve ali, assim como alguns pratos clássicos, como o imperdível Bacalhau com broa, o tradicional Arroz de sarrabulho e as Presas de porco preto. O restaurante “preserva as memórias de outros tempos”, como dizem os seus donos, mas soube se manter atual para agradar os mais distintos tipos de clientes.Refúgio gastronómico no centro do Porto: Gruta
Escondida da azáfama na movimentada Rua de Santa Catarina, no centro do Porto, a Gruta é um refúgio para os que buscam uma boa mesa. Por aqui, ela pode estar tanto na confortável esplanada quanto no aconchegante salão. O restaurante tem foco em peixes e mariscos da costa portuguesa, também com destaque para pratos que podem ser compartilhados, como o Crudo de corvina, as Gambas rosas com salsa verde ou o Lingueirão à Bulhão Pato. Para refeições mais compostas, o Arroz de mar ou o Carabineiro com mil-folhas de mandioca cumprem bem o papel, acompanhados pela afinada seleção de vinhos portugueses.Embaixada da cozinha alentejana em Lisboa: O Frade
Desde que abriu as portas, O Frade se transformou numa acolhedora embaixada da cozinha alentejana numa encantadora esquina de Belém, um dos bairros mais populares de Lisboa. O espaço tem pinta de tasca alentejana, com um extenso balcão em U para sentar, petiscar e beber vinho de talha, uma herança da tradição romana na região. Rissóis de lingueirão, Empada especial, Lula alhada, Coelho de coentrada, Tártaro de carne: muitas são as razões para não querer avançar para os pratos principais, mas seria um erro não provar a Feijoada de polvo ou o Arroz de pato que virou assinatura local, cremoso e finalizado com raspas de laranja. Também vale guardar um espaço no estômago para as deliciosas sobremesas, como a irresistível Mousse de chocolate com gelado.Quando tradição rima com inovação: Tasca do Zé Tuga
Não dá para falar de petiscar e não ter pelo menos uma tasca nesta seleção. O Zé Tuga abriu como um sítio para “petiscos, vinho e conversa”, como diz a placa à entrada, mas evoluiu a sua proposta gastronómica para além do Prego de carne mirandesa que lhe deu fama, e hoje serve até menus-degustação. O chef leva muito da tradição da culinária tuga até no nome: Luís Portugal cozinha de Cataplanas algarvias a Cuscos transmontanos com cozido de butelo com toque criativo e pessoal. O restaurante localizado no Castelo de Bragança, entretanto, mantém as suas raízes na decoração com as suas mesas de madeira e bacalhau seco pendurado no teto, como sempre foi.Pratos para compartilhar em Estremoz: Casa do Gadanha
Com ares de uma cozinha de casa de campo no meio da cidade branca — como Estremoz se tornou conhecida —, o Casa do Gadanha é um restaurante em que os pratos para partilhar têm um apelo especial, graças ao talento do chef Ruben Trindade para transformar ingredientes corriqueiros em refeições especiais. É o caso dos Ovos de codorna fritos com gambas da costa (ok, com umas pitadas de caviar!), as Beringelas com praliné de avelãs e queijo de cabra, ou a Lula de toneira com manteiga fumada e alho francês. Tudo com uma estética meio fine dining, mas com sabores reconfortantes da vida toda.Pratos frescos da ria e do mar: Noélia
Reconhecida como uma das maiores chefs de Portugal, Noélia Jerónimo conseguiu transformar o seu restaurante homónimo, em Cabanas de Tavira, num espaço de culto para quem ama comer bem. Quem faz férias no Algarve tem sempre como rota passar ou desviar de propósito para (voltar a) provar as receitas dessa cozinheira cheia de carisma e paixão pela cozinha. O mar e a ria é que determinam os pratos, trazendo o que de mais fresco há para a mesa. Muitos deles próprios para a arte de petiscar: Vieiras com molho de coco, Tapas de muxama algaravia com figos, Lulas fritas, muitos mariscos. E os arrozes, preparos pelos quais Noélia se tornou conhecida. Um bocadinho para cada um, e toda a gente pode provar um pouco de tudo, que é o jeito que a cozinheira gosta.Imagem de capa: Bolinhos de bacalhau e rissóis de camarão do restaurante © Tasquinha da Linda