Perfis 2 minutos 25 Abril 2020

Dias de criatividade

Confira o que chefs estão fazendo em tempos de isolamento social: desde passar mais tempo com a família até criar novos projetos

Vamos olhar o lado bom das coisas: ficar em casa pode significar uma reconexão com o ambiente onde moramos e com a família, um tempo para soltar a criatividade, descobrir novos caminhos e, até, para se dedicar a novos projetos.

Cada um a seu modo, os chefs Luiz Filipe Souza, do Evvai, e Helena Rizzo, do Maní e do Manioca, estão encarando a quarentena de jeitos bem diferentes, mas igualmente proveitosos.

Confira, abaixo, o que esses chefs andam fazendo e inspire-se!


Mais família, mais comida boa 

“Nossa rotina aqui em casa está bem tranquila”, nos conta Helena Rizzo. Ela divide os dias de isolamento social com o marido, o compositor Bruno Kayapy, e a filha Manu. O dia, para ela, começa cedinho, lá pelas 7h30, com toda a energia da Manu que quer aproveitar a presença da mãe. Entre uma brincadeira e outra com a pequena de quatro anos, Helena aproveita para fazer yoga.

Nem tudo é tranquilidade. Mesmo com o Maní e o Manioca fechados temporariamente, a chef precisa lidar com questões administrativas. “Sempre tem algo a ser resolvido, alguma reunião online para fazer”, diz. Mas nada atrapalha as refeições da família - momento sagrado para nós!

Helena e Bruno preparam as refeições juntos. E aí, haja criatividade! “Já fizemos de quase tudo: churrasco, nhoque, lasanha, isca de peixe, arroz, feijão, bife acebolado, purê de batata…”. E sobremesa? “Muito pudim e bolos mil! Já teve até picolé!”

A chef conta que, à tarde, bate sol gostoso em frente à sua casa. “É o momento que aproveitamos para tomar um solzinho bom e repor a vitamina D”.

Além de tempo com a família e muita comida boa, Helena também tem se dedicado à leitura. “Eu também queria ver mais filmes, mas é muito difícil, porque a Manu toma conta da televisão, então não tenho muita chance!”, diz ela sorrindo.


Trabalho, com criatividade 

Repensar o modelo de negócio e até tocar novos projetos foram oportunidades que Luiz Filipe Souza, chef do Evvai, teve condições de levar adiante durante esse período de recolhimento. Ele fechou o salão do restaurante, mas criou um serviço de delivery pop up, para levar as refeições até os clientes. E ainda lançou uma novidade: um novo restaurante, o Evv.ita, que serve pizzas individuais por delivery. Mais adiante, quando tudo voltar à normalidade, a ideia é ampliar o cardápio com outras receitas feitas no forno à lenha.


O chef Luiz Filipe Souza na cozinha do Evvai (Foto: Tadeu Brunelli)

Planejar tanto, claro, dá trabalho. “Tenho trabalhado com menos intensidade, porém com a mesma frequência. Vou ao Evvai todos os dias, mas tenho ficado mais à frente das decisões operacionais do negócio, planejando possíveis caminhos para atravessar esse período. É uma tarefa complexa”, conta ele. Souza explica que o planejamento envolve desenvolver cardápios, embalagens, ideias e pensar em toda a cadeia de trabalhadores que está por trás do restaurante, já visando o futuro e a retomada. “Mas tenho cozinhado menos do que gostaria”, lamenta o chef.

Enquanto Souza se dedica ao planejamento, os sous-chefs, Vinicius e Pedro, ficam à frente da cozinha do Evvai. “A equipe está reduzida, assim como o cardápio”, conta. “O primeiro passo foi isolar quem faz parte do grupo de risco, quem convive com pessoas do grupo de risco ou quem precisa usar transporte público para ir trabalhar. Bolamos um esquema de caronas e deixamos os funcionários escolherem se queriam trabalhar. Os demais estão em casa”. A equipe reduzida que trabalha no delivery do Evvai está mantendo “a chama acesa”, como diz o chef, e garantindo o salário dos funcionários.

E foi em meio a essa loucura toda que Souza ainda abriu o Evv.ita, restaurante que já tinha a inauguração programada para o fim de março. Em vez de simplesmente desistir ou adiar a abertura, Souza remanejou todo o planejamento e abriu em sistema de delivery.

Para preservar o caixa do negócio, ele mudou o direcionamento da reforma no restaurante, garantindo que apenas a parte operacional da casa fosse terminada. O salão, que terá um balcão com 18 lugares, ficará para depois.

“Assim, conseguimos continuar com nossos planos de operacionalizar agora”, conta. “Não queríamos abrir mão disso, porque foram meses de planejamento, de investimentos de parceiros, de pesquisa e de paixão dos nossos colaboradores”.

Mesmo assim, o chef também conseguiu se isolar um pouco do trabalho. “Pela primeira vez na vida, eu tiro uma folga por semana, às segundas. Até deixo meu celular no modo “não perturbe”!”, diz. “Tem sido muito gratificante, porque eu trouxe de volta hábitos esquecidos, como a meditação para lidar com a ansiedade. Também tenho passado bem mais tempo com meu cachorro, o Rossini”.

Souza conta que, em casa, no dia de folga, a churrasqueira está sempre acesa - o churrasco divide espaço no dia com leituras e maratonas de séries e podcasts.

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