Travel 4 minutos 16 Fevereiro 2025

Norte de Portugal: rota gastronómica por estradas cénicas entre montanhas

De Bragança ao Parque Natural do Douro, 300 km de mota por paisagens deslumbrantes e sabores que celebram a essência desta rica região.

Dos fumeiros e das caças ao cabrito assado no forno, dos azeites aos vinhos conhecidos em todo o mundo, a Região Porto e Norte, que será o palco da Gala do Guia MICHELIN no próximo 25 de fevereiro de 2025, é um destino imperdível pela sua rica tradição enogastronómica. Mas também pelas suas paisagens deslumbrantes, que percorrem aldeias escondidas entre montanhas e preservam uma profunda relação com a terra deste canto inóspito e generoso do país, com uma essência tão genuinamente portuguesa.

Tradições seculares — como a dos Caretos, os personagens mascarados que participam de uma singular celebração pagã — mantêm-se ao longo do tempo neste território, onde cursos de água serpenteiam pelos vales, alimentando vinhedos, olivais e castanheiros que se adaptaram ao frio rigoroso do inverno e ao calor seco do verão.

É para tirar o melhor proveito desta paisagem tão única e pitoresca que a seguinte rota para se fazer de mota foi concebida. Neste trajeto por Trás-os-Montes, homologado pela Real Federación Motociclista Española, podemos percorrer estradas romanas e cruzar pontes históricas, admirar o rio Douro a correr entre as montanhas de socalcos e fotografar as amendoeiras em flor que tomam a paisagem por quilómetros no final do inverno. Por isso, a melhor altura para se aventurar por estas estradas é em fevereiro e março, quando os dias frios são acompanhados dos raios de sol que começam a dar a cara com mais intensidade.

Mas, independentemente do mês, a rota também serve como pretexto para saborear a gastronomia local em restaurantes que celebram as ricas culinárias transmontana e duriense — que, por si sós, já seriam motivo suficiente para visitar a região. História, natureza e boa comida se unem neste percurso sobre duas rodas.

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Bragança: antes de mais, boa comida

A nossa jornada de 300 km pelo Norte de Portugal começa em Bragança, uma cidade aninhada na beleza acidentada do nordeste de Portugal e repleta de uma história tão intrigante como as suas antigas muralhas de pedra. O ponto de partida é a Pousada de Bragança - São Bartolomeu, mantida há gerações pela família Geadas. É nela que fica o G Pousada, restaurante reconhecido com uma Estrela MICHELIN que ganhou notoriedade pela cozinha que mescla a tradição transmontana, refletida tanto no receituário quanto na escolha de produtos locais, com técnicas apuradas.

Os irmãos Geadas — com Óscar na cozinha e António no serviço e na seleção vínica — transformaram o restaurante num verdadeiro destino gastronómico, provando que a diversidade da culinária portuguesa vai muito além do eixo Lisboa-Porto. À sombra do Castelo de Bragança, o menu do G Pousada muda consoante as estações, mas presta sempre homenagem aos ingredientes locais, como o cuscuz de Vinhais, o porco Bísaro, os cogumelos, as castanhas e o queijo Terrincho — que aqui serve de recheio para um dos clássicos do chef: a Bola de Berlim salgada.

O G Pousada combina a tradição gastronómica transmontana com técnicas culinárias refinadas © Brand22/G Pousada
O G Pousada combina a tradição gastronómica transmontana com técnicas culinárias refinadas © Brand22/G Pousada

Primeiros quilómetros: de Bragança a Gimonde

Bem alimentados depois de um pequeno-almoço reforçado na Pousada de São Bartolomeu, é hora de pegar a estrada. A N218 atravessa vales verdejantes e campos rústicos até Gimonde, uma pequena aldeia conhecida pelas suas pontes centenárias, pela tradição do fumeiro artesanal e por ser a terra de Elisabete Ferreira, eleita a Melhor Padeira do Mundo pela União Internacional de Panificação e Pastelaria (UIBC).

Esta primeira paragem é também uma pausa estratégica para admirar o rio Maçãs, onde a tranquilidade da água cria quase um espelho natural que reflete o céu — o lugar perfeito para algumas fotos antes de seguir viagem.

Ponte sobre o rio Sabor, em Gimonde, Bragança, Portugal © Rui T Guedes/iStock
Ponte sobre o rio Sabor, em Gimonde, Bragança, Portugal © Rui T Guedes/iStock

O Douro: entre fortalezas e miradouros

A rota leva-nos ao Castelo de Algoso, uma construção medieval imponente, erguida sobre um rochedo e envolta em lendas. Pela N221, continuamos até ao miradouro do Colado, de onde o olhar se perde na vastidão do Parque Natural do Douro Internacional, cuja vegetação tomada por bosques serve de habitat para diversas aves endémicas.

À medida que descemos em direção ao Douro Superior, o terreno começa a transformar-se. O granito cede espaço ao xisto, criando solos que absorvem e refletem o calor, um fator essencial para a maturação das vinhas. O Vale do Douro, profundo e serpenteante, marca a fronteira entre Portugal e Espanha e oferece vistas de tirar o fôlego, com as suas águas a cortar os vales de forma majestosa. Aqui, as montanhas começam a abrir-se em socalcos, e a viticultura molda a paisagem de forma quase escultórica, com pequenos caminhos que ligam as quintas históricas que se debruçam sobre o rio.

O rio Douro, entre costas vertiginosas e ondulantes © Ruben Bermejo/iStock
O rio Douro, entre costas vertiginosas e ondulantes © Ruben Bermejo/iStock
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De Poiares a Pocinhos: vestígios romanos e estradas panorâmicas

De volta à estrada, seguimos pela N221 até a estrada panorâmica de Poiares, região que preserva vestígios do Neolítico, da presença romana e muçulmana, além de antigas rotas de peregrinação, com alcatrão em perfeito estado e curvas bem desenhadas. Em pouco tempo, surge um testemunho da história: a Calçada Romana dos Alpajares, uma antiga via de pedra percorrida por exércitos e mercadores durante séculos. A sensação é de viajar através do tempo.

Dali, atravessamos Pocinho, passando por uma das estradas mais cénicas de Portugal, onde o Douro se estreita entre costas vertiginosas e ondulantes. No verão, o calor é intenso, enquanto no outono, as vinhas tingem-se de vermelho e laranja, num espetáculo visual que reforça o caráter épico da região.

A estrada acompanha o rio, permitindo conduzir ao lado das vinhas e dos socalcos que produzem alguns dos melhores vinhos portugueses. Mais adiante, os Lagos do Sabor surgem como um refúgio inesperado de tranquilidade. Nascidos com a construção da Barragem do Baixo Sabor, correspondem a 70 km de águas cristalinas até à foz do Azibo, interligados por gargantas e penhascos, que formam um verdadeiro santuário da vida selvagem.

Paisagem dos Lagos do Sabor © Wirestock/iStock
Paisagem dos Lagos do Sabor © Wirestock/iStock

Podence e a tradição dos Caretos

A rota não estaria completa sem uma paragem em Podence, a aldeia que mantém viva uma das tradições mais vibrantes do Norte de Portugal. Ali, no fim do inverno e início da primavera, durante o Carnaval, os Caretos — personagens mascarados de trajes coloridos e chocalhos — protagonizam o ritual pagão do Entrudo Chocalheiro, reconhecido como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

Aqui, a cultura e a identidade transmontana revelam-se na sua essência mais autêntica e representam uma nova forma de olhar para as tradições de uma região marcada pelo despovoamento.

Em Podence, os Caretos, personagens mascarados de trajes coloridos e chocalhos, protagonizam o Entrudo Chocalheiro © rfranca/iStock
Em Podence, os Caretos, personagens mascarados de trajes coloridos e chocalhos, protagonizam o Entrudo Chocalheiro © rfranca/iStock

De volta à Bragança — e à boa mesa

Com a rota a chegar ao fim, é hora de regressar a Bragança pela N15, onde a boa comida é sempre um motivo para voltar. A cidade preserva uma gastronomia autêntica e robusta, que comprova por que a cozinha transmontana é uma das mais genuínas do país.

Aos pés do Castelo de Bragança, a Tasca do Zé Tuga presta homenagem à culinária local com pratos como o Caldo de castanhas e nabo e o Bacalhau demolhado com puré de tremoços. O chef Luís Portugal combina criatividade e tradição num menu de degustação que revela novos sabores sem perder a identidade regional.

Outra opção para desfrutar dos sabores transmontanos é o restaurante O Javali, de Alberto e Maria do Carmo, que se destaca há duas décadas pelo uso dos melhores produtos locais. O javali, que dá nome à casa, pode ser servido estufado com castanhas ou acompanhado de laranja e maçã, enquanto pratos clássicos como o Cordeiro bragançano e butelo (um enchido típico) chegam à mesa com batatas e legumes da região.

Entre estradas panorâmicas, fortalezas, rios e aldeias cheias de história, a rota termina como deve ser: com a celebração da cultura e da gastronomia, após percorrer a paisagem única do Norte de Portugal e vivenciar a calorosa hospitalidade dos transmontanos.

A Tasca do Zé Tuga combina criatividade e tradição sobre a mesa © Mário Cerdeira/Tasca do Zé Tuga
A Tasca do Zé Tuga combina criatividade e tradição sobre a mesa © Mário Cerdeira/Tasca do Zé Tuga

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Imagem de capa: Paisagem do Vale do Douro © ruivalesousa/iStock

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Tarifas em EUR para 1 noite, 1 hóspede