“No seu melhor, um Porto vintage é um dos vinhos mais profundos, ricos e hedonistas do mundo”, escreveu certa vez Robert Parker, um dos mais influentes críticos de sempre, sobre o vinho fortificado produzido na região Norte de Portugal, que se tornou um dos mais emblemáticos no panorama internacional. Até mesmo quem nunca provou esta bebida de textura aveludada com “camadas de caramelo, nozes torradas, frutas secas e especiarias”, como descreve Parker, conhece a sua fama.
Esta história começou a fermentar há alguns séculos, quando, ao estabelecer os limites geográficos das vinhas do vinho do Porto, classificando-as segundo a qualidade e estabelecendo normas para a produção do vinho, o Marquês de Pombal afirmou-se como um visionário do moderno conceito de Denominação de Origem. Converteu o vinho do Porto num dos pioneiros na questão de demarcação e ajudou a que a cidade que empresta o nome a esta bebida ganhasse mais popularidade no mundo.
Mais do que um motor económico — que colaborou até para financiar a reconstrução de uma Lisboa pós-terramoto — o vinho do Porto impôs-se como um símbolo internacional da enogastronomia portuguesa e como uma expressão da forma que os locais (e agora também os turistas e estrangeiros) celebram em torno da mesa. No Porto, a segunda maior cidade de Portugal, essa celebração continua em marcha em restaurantes, cafés e (cada vez mais) em bares, onde o vinho fortificado vai de copos a pratos, provando toda a sua versatilidade.
Abaixo, um roteiro pela cidade portuense — que vai ser o palco para a gala de celebração da edição 2025 do Guia MICHELIN, com data confirmada para o dia 25 de fevereiro — onde beber e degustar este vinho generoso nas suas mais diversas formas.
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Euskalduna Studio: vinho do Porto em dose dupla
No restaurante com uma Estrela MICHELIN do chef Vasco Coelho Santos, a criatividade é um ingrediente essencial. Os pratos mudam frequentemente, mas as combinações de sabores inesperados e as receitas inovadoras são uma constante neste espaço inspirado nos omakase japoneses que celebra produtos portugueses com olhos para o mundo. No menu atual, a sobremesa principal é uma Tartelette de tomates, feita com os frutos marinados por dois dias em vinho do Porto, servida numa massa inspirada no pão chinês, acompanhada por queijo chèvre produzido em Portugal e pó de sementes de maracujá. Para harmonizar com o prato, a escolha recai sobre um Porto Andresen Colheita 2005.Casa da Companhia: o Porto em versão coquetel
Em plena Rua das Flores, uma das mais históricas da Baixa do Porto e incluída na Lista do Património Mundial da UNESCO, a Casa da Companhia é um moderno hotel de luxo. Os interiores foram restaurados mantendo a sua traça original do século XVIII, com livros, garrafas e outros objetos da Real Companhia Velha, uma das mais antigas casas de vinho do Porto. Logo no rés do chão, com acesso à rua e aberto a todos os visitantes, está o bar do hotel. Além de uma carta com dez referências de vinhos do Porto para se degustar a copo, oferece cocktails que têm o vinho fortificado como ingrediente principal. É o caso do Porto Tónico, um clássico local que mescla Vinho do Porto Extra Dry, água tónica e notas de lima, laranja e limão para criar uma bebida bem refrescante.Sandeman: visitar e dormir entre as barricas
Não há melhor maneira de conhecer a história e a produção do vinho do Porto senão visitando uma das suas antigas caves, onde as uvas colhidas ainda no Douro são transformadas no líquido espesso e complexo que conquistou paladares de todo o mundo. Na sua adega com mais de 200 anos, a Sandeman, uma das casas mais tradicionais do Porto, oferece visitas guiadas, provas de vinhos e uma fascinante exibição de pinturas e fotografias recolhidas ao longo dos séculos de história da marca. Também os visitantes podem conhecer uma das mais completas coleções de garrafas de toda a Europa. Para quem busca uma experiência ainda mais imersiva, a casa construiu o The House of Sandeman - Hostel & Suites. É um alojamento elegante e aconchegante, onde as camas dos quartos partilhados foram montadas em molduras circulares que lembram as barricas de vinho. Nos dormitórios privados há uma seleção de obras de arte sobre a Sandeman.The Yeatman: o vinho fortificado sempre presente
Neste luxuoso hotel, a uma curta distância das famosas caves em Vila Nova de Gaia, o vinho é a estrela principal. Também o vinho do Porto, claro, que merece destaque desde o serviço de quartos até às cartas. No restaurante gastronómico, por exemplo, com duas Estrelas MICHELIN, entre as mais de 1300 referências vínicas disponíveis (que somam 30 mil garrafas), cerca de 280 são de Rubys, Tawnys e outros tipos de vinhos do Porto — algumas delas raríssimas, como Taylor’s Single Harvest 1896 e Croft Vintage Port 1955. Desde o momento da chegada ao hotel — em que o hóspede pode desfrutar de um copo de vinho do Porto — até ao bar, com provas acompanhadas de queijos no jantar, o vinho fortificado está sempre presente. Nos vários espaços gastronómicos do hotel, acontece também diariamente um ritual tradicional que nunca deixa de impressionar: a abertura de garrafas de Porto a fogo, para garantir que nenhuma parte da rolha caia no vinho.Vila Foz: do prato às sobremesas
Para mostrar que o vinho do Porto pode ser muito versátil, o chef Arnaldo Azevedo, do restaurante do hotel de luxo Vila Foz Hotel & Spa, com uma Estrela MICHELIN, criou um novo prato para o seu menu vegetariano. Ele usa o vinho fortificado num jus de vegetais, servido com alface grelhada, batata frita e cogumelos. O vinho ajuda a dar mais profundidade de sabor ao molho. No menu do Flor de Lis, a proposta gastronómica mais informal do hotel, Azevedo também usa o Porto numa sobremesa, uma rabanada embebida numa calda com leite e vinho, com raspas de limão e canela.Imagem de capa: vistas da cidade do Porto © Tiago_Fernandez/iStock