Para o sommelier Marc Pinto, cada garrafa de vinho traz uma mensagem. “O vinho é apenas um veículo: para gerar emoções, para conectar pessoas com diferentes lugares ou até com um sonho, não é?”, questiona. “Para quem nunca visitou o Douro, contar como é a região e como se produzem vinhos ali, permite sonhar com a visita. O nosso trabalho é muito mais do que abrir garrafas”, defende.
Essa filosofia tem guiado a sua carreira ao longo de mais de 15 anos — 12 deles dedicados a restaurantes com Estrelas MICHELIN, entre Espanha e Portugal. Profissional de excelência do Fifty Seconds, em Lisboa (com uma Estrela MICHELIN), Pinto foi eleito Sommelier do Ano pelas revistas Grandes Escolhas (2021) e Revista de Vinhos (2020) e é tricampeão do Campeonato Nacional de Escanções (de 2022 a 2024, todos em sequência). No dia 25 de fevereiro, também foi reconhecido com o Prémio MICHELIN Sommelier na Gala do Guia MICHELIN Portugal 2025. Mais um galardão para um currículo já recheado.
Pinto afirma que receber a distinção foi “pura emoção, mas também um grande sentimento de gratidão”. “É um feito que dedico, sem dúvida, à minha equipa e aos produtores de vinho, pois sem eles não é possível um indivíduo atingir o seu máximo esplendor e, acima de tudo, comunicar vinhos fenomenais como os que tenho a oportunidade de apresentar”, explica.
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Os inícios e a paixão por criar memórias
Nascido perto de Champagne, França, e criado em Santa Maria da Feira, já em Portugal, chegou a iniciar estudos em Ciências e Tecnologias, mas não se sentia realizado nesse caminho. Desde pequeno, adorava o ambiente dos restaurantes e decidiu estudar serviço e enologia. Além de conhecer o que vai dentro das garrafas (safras, regiões e castas), Pinto desenvolveu um carinho especial por servir clientes, a quem prefere chamar de “convidados”. “Sim, porque somos nós que os recebemos com toda a hospitalidade possível”, afirma. “Um sommelier não pode ser apenas um conhecedor de vinhos, tem de ser também um excelente anfitrião. O serviço não se trata apenas de servir, mas de criar momentos, de saber ler a mesa e tornar cada experiência especial”, acrescenta ele, que gere uma garrafeira com mais de mil referências.Pinto celebra o crescente reconhecimento de uma profissão que exige muita dedicação. “Brinco que são 15 anos de altruísmo da minha vida, porque muitas vezes abdicamos dos nossos aniversários e momentos em família para estar no restaurante”, comenta. Vê com otimismo o facto de prémios e guias darem mais atenção ao serviço. “Durante muito tempo, o foco estava na cozinha e nos chefs, mas a verdade é que a experiência gastronómica não se faz apenas no prato. O sommelier tem o poder incrível de transformar um jantar e criar memórias. Não se trata apenas de vender vinhos caros, mas de compreender cada mesa e encontrar a ligação perfeita entre o vinho e a experiência”, afirma.
Por isso, é essencial lembrar que o “convidado” deve estar no centro dos esforços de quem escolhe a restauração como carreira. “O cliente está sentado e nós estamos de pé. A experiência é sempre sobre quem está sentado. Devemos saber quando entrar e quando sair, e manter sempre o nosso termómetro ligado — há momentos em que a mesa precisa de calor e outros em que devemos recuar para a sombra”, diz, com o conhecimento de quem aprendeu com bons mestres.
Uma trajetória repleta de Estrelas
Antes do Fifty Seconds, onde hoje divide a responsabilidade de receber os clientes ao lado de uma equipa que conta com mais duas pessoas e do chef Rui Silvestre, que comanda a cozinha, Pinto colaborou com outros grandes cozinheiros, como Paco Pérez, Martín Berasategui e Filipe Carvalho. No Enoteca Paco Pérez, restaurante com duas Estrelas localizado Hotel Arts Barcelona, teve o primeiro contacto profundo com a enologia. Logo depois, trabalhou no Lasarte, onde se tornou, pela primeira vez na carreira, head sommelier. Durante o período em que ocupou o cargo, o restaurante recebeu a cobiçada terceira Estrela MICHELIN. O desejo de regressar a Portugal e uma desafiadora (e boa) proposta para assumir o serviço de vinhos do Fifty Seconds mantêm-no no cargo atual, onde acumula prémios e horas de atendimento — que é o que mais gosta de fazer.Os reconhecimentos, entretanto, dão-lhe a certeza de que tem seguido o caminho certo ou, nas suas palavras, que “valeu a pena abdicar um pouco do foco em mim para dedicar o nosso amor a quem nos visita”. Para ele, o prémio atribuído pela MICHELIN é um marco importante na sua carreira, “mas em si não é o destino final. Isto só me dá mais motivação e força para continuar a criar experiências e memórias inesquecíveis à mesa”, diz. Ou para conseguir convencer mais clientes de que o vinho pode ser muito mais do que as pessoas costumam ver. “O vinho não é apenas uma bebida, é uma história, uma viagem e, acima de tudo, uma emoção”, conclui. E essa história, Marc Pinto está sempre pronto a servir.
